EUA/Eleições: O referendo ao Governo democrata e o teste à oposição republicana

As eleições intercalares nos EUA, marcadas para 08 de novembro, serão um referendo ao Governo democrata do Presidente Joe Biden, mas também um teste à popularidade dos republicanos.

Em condições normais, os democratas estariam condenados a perder votos e lugares no Congresso ou nos governos estaduais, pagando o preço do desgaste dos dois anos de poder de Joe Biden, especialmente perante os fracos níveis de popularidade do Presidente, enquanto os republicanos beneficiariam das dificuldades do Governo em exercício.

Contudo, as eleições intercalares marcadas para 08 de novembro vão ocorrer em situações excecionais, com o país a recuperar de uma violenta pandemia, de um ataque ao Capitólio que deixou marcas profundas e dividiu profundamente o Partido Republicano, e de uma escalada da inflação que está a alarmar os norte-americanos, baralhando as contas dos especialistas em sondagens.

A guerra na Ucrânia tem sido tema de campanha, mas as atenções dos candidatos centram-se nas questões económicas, em particular o combate contra a inflação e a recuperação da economia, enquanto os democratas procuram salientar temas sociais e os republicanos tentam explorar os receios com o aumento da violência em várias partes do país.

Nestas eleições, vão a jogo todos os 435 lugares da Câmara de Representantes, 35 dos 100 lugares do Senado e ainda 36 lugares de governadores de estados e três de territórios, numas eleições que podem vir a determinar também o desfecho das presidenciais de 2024.

A tradição diz que o partido que apoia o Presidente em exercício costuma perder as eleições e as estatísticas mostram que o prejuízo, em média, é a perda de 29 lugares na Câmara de Representantes, um número mais do que suficiente para os republicanos conseguirem a maioria, já que apenas têm nove lugares de desvantagem.

A tradição diz ainda que, se o Presidente estiver em dificuldades, as perdas para o seu partido podem ser ainda mais significativas, o que fez acender as luzes de emergência no Partido Democrata, quando no início deste ano Joe Biden revelava níveis de popularidade em mínimos históricos.

No Senado, a tarefa dos republicanos é ainda mais fácil, já que basta-lhes ganhar um único lugar, entre os 100, para conseguirem desfazer o empate que se vive na câmara alta do Congresso, obtendo uma maioria que pode ser muito obstaculizante para o Presidente democrata.

Felizmente para Biden e para os democratas, Biden tem vindo a recuperar nas sondagens, ao mesmo tempo que o Partido Republicano começou a mergulhar em dois problemas: fortes cisões internas e o envolvimento da sua figura de proa, o ex-Presidente Donald Trump, em complicados processos judiciais.

Apesar da subida da popularidade de Biden, as sondagens indicam que os eleitores continuam muito preocupadas com o estado da economia – uma variável considerada essencial para antecipar a tendência dos resultados eleitorais e que, neste momento, não é favorável para os democratas.

Ainda assim, a duas semanas das eleições, as sondagens dão uma ligeira vantagem para os democratas, quando genericamente se pergunta aos eleitores se preferem votar num qualquer candidato de um dos dois principais partidos.

Contudo, de acordo com o ‘site’ FiveThirtyEight (que faz uma média das diversas sondagens), se os democratas têm fortes probabilidades de manter a maioria no Senado, são os republicanos quem reúne mais probabilidades de recuperar a maioria na Câmara de Representantes.

As atenções dos analistas centram-se em estados onde as sondagens indicam poder haver alterações significativas no comportamento do eleitorado, como Geórgia, Colorado ou Pensilvânia, refletindo a enorme instabilidade no interior dos dois partidos.

Por outro lado, os analistas atribuem a recuperação de popularidade de Biden e do seu partido ao facto de o preço da gasolina estar a baixar, de o Governo – com a ajuda da Reserva Federal – parecer estar a controlar a inflação, e de o Presidente estar a conseguir fazer passar algumas medidas populares (como aconteceu com o perdão das dívidas de propinas universitárias).

Ao mesmo tempo, a ameaça de retrocesso na legislação sobre o aborto (impulsionada pelos juízes conservadores no Supremo Tribunal dos EUA) deu novo alento aos candidatos democratas ao Congresso, que estão a usar este episódio para alertar para os riscos de novas maiorias republicanas.

Contudo, os analistas políticos aconselham os democratas a serem cautelosos na forma como olham para estes sinais e, ainda mais, na maneira como interpretam as sondagens, alertando para a imprevisibilidade do “efeito Trump” (que apoia muitos dos candidatos republicanos nos boletins de voto).

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Lusa/Fim

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