Biografia de Philip Roth cancelada nos EUA vai ser publicada em Portugal em outubro

A biografia do escritor norte-americano Philip Roth (1933-2018) cuja publicação foi cancelada nos Estados Unidos devido a acusações de agressão sexual que impendem sobre o autor, Blake Bailey, vai ser publicada em Portugal em outubro, anunciou a editora.

“Philip Roth: The biography” tem cerca de 1.100 páginas e já está em tradução, estando previsto o seu lançamento em Portugal, pela Dom Quixote, em outubro, disse à Lusa fonte do grupo editorial Leya.

Esta decisão surge numa altura em que não se sabe se a biografia do autor de “O Complexo de Portnoy” vai, ou quando irá, ser republicada nos Estados Unidos, depois de a editora W.W. Norton and Company ter anunciado que não iria continuar a imprimir o livro, na sequência de acusações de abuso sexual contra o biógrafo, Blake Bailey, trazidas a público por algumas mulheres.

“O que se está a passar na América não afeta a publicação do livro cá. Não iríamos privar os leitores de Philip Roth da sua biografia, já falada e anunciada”, disse a mesma fonte, destacando que esta é uma biografia autorizada, cujo autor foi escolhido pelo próprio Philip Roth, o único que ficou até ao fim, depois de outros dois biógrafos anteriormente terem desistido do projeto.

Em abril foi conhecida a existência de denúncias contra Blake Bailey de agressão sexual a duas mulheres, uma das quais alegadamente ocorrida em 2015, e de comportamento inapropriado nos anos 1990, com estudantes numa escola em Nova Orleães, onde deu aulas.

Segundo noticiou, na altura, o jornal The New York Times, uma das denúncias contra Bailey partiu de uma mulher, executiva na área editorial, que o acusava de uma violação, ocorrida em 2015.

A mulher, Valentina Rice, chegou a denunciar o caso à presidente da editora Norton, sob pseudónimo, que encaminhou o ‘email’ para o próprio Bailey. O escritor, por sua vez, contactou Rice na sequência da acusação.

Blake Bailey, 57 anos, que é considerado um dos mais reputados biógrafos norte-americanos – foi finalista do prémio Pulitzer – nega as acusações, mas as suspeitas levaram a editora W.W. Norton & Company a recuar na semana que terminou no plano editorial em torno do mais recente livro do autor, a biografia autorizada de Philip Roth.

“Estas alegações são graves. Decidimos suspender o envio [de exemplares] e a promoção de ‘Philip Roth: The Biography’ até surgir mais informação”, afirmou a editora, em comunicado citado pela agência Associated Press.

Blake Bailey também já foi rejeitado pela agência literária com a qual trabalhava, a Story Factory.

A verdade é que o lançamento editorial da biografia de Philip Roth estava já em marcha, com uma primeira edição de 50 mil exemplares à venda nos Estados Unidos, e o próprio Blake Bailey tinha feito entrevistas promocionais. Uma segunda edição de 10 mil exemplares, prevista para maio, foi suspensa.

O livro estava a ser acolhido com alguma expectativa, por ser sobre Philip Roth, um dos nomes centrais da literatura norte-americana do século XX, mas também por ter sido autorizada e pelo que revelou sobre a relação do romancista com as mulheres.

Blake Bailey, que esteve a trabalhar na biografia desde 2012, explicou em entrevistas que teve total acesso à documentação pessoal de Philip Roth e pôde conversar longamente com o romancista, que morreu em 2018.

Philip Roth é considerado um dos maiores escritores da segunda metade do século XX, autor de uma vasta obra que conta com 31 livros, desde que se estreou na literatura, em 1959, várias vezes apontado como um dos favoritos ao Nobel da Literatura, prémio que acabou por nunca ganhar.

O escritor de origem judaica é conhecido sobretudo pelos romances, embora também tenha escrito contos e ensaios, entre os quais se inclui a trilogia americana, publicada na década de 1990, composta por “Pastoral Americana”, “Casei com um comunista” e “A Mancha Humana”.

“A humilhação”, “Animal moribundo”, “Goodbye, Columbus”, “Teatro de Sabbath”, “Todo-o-Mundo” e “A conspiração contra a América” são outros dos seus livros mais conhecidos.

Muitas das obras de Philip Roth refletem os problemas de assimilação e identidade dos judeus dos Estados Unidos, explorando também a natureza do desejo sexual e a auto compreensão, caracterizando-se, no estilo, pelo monólogo íntimo e pelo humor satírico.

Ao longo da sua carreira literária, ganhou vários prémios, entre os quais o Pulitzer de ficção, o National Book Award e o National Book Critics Circle Award, o PEN/Faulkner de Ficção, o Médicis estrangeiro e o Man Booker Internacional.

Em 2012 anunciou que abandonava a carreira de escritor, sendo “Némesis” o seu último trabalho, e passou a dedicar-se à produção da sua biografia.

Philip Roth morreu em 2018, aos 85 anos, vítima de insuficiência cardíaca em Nova Iorque.

AL (SS) // TDI

Lusa/fim

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