Salão português de Artesia atrai milhares no 75.º aniversário da Festa de Fátima

O Artesia Divino Espírito Santo, salão português histórico nos arredores de Los Angeles, assinala até 14 de maio o 75.º aniversário da Festa de Fátima com milhares de participantes nas celebrações. 

“É um marco para toda a comunidade”, disse à Lusa Veronica Simas, presidente da Festa de Fátima 2023. “Este não é só o 75.º aniversário da festa em honra de Nossa Senhora de Fátima, é também da abertura da escola Our Lady of Fatima ao lado da Igreja da Sagrada Família”, afirmou a responsável. 

A escola e a Festa de Fátima começaram em 1948 nesta pequena cidade do sul da Califórnia, onde se estabeleceu uma comunidade portuguesa oriunda sobretudo dos Açores. 

Dada a importância da data, a comissão de festas aumentou a habitual comemoração de dois para três dias e adicionou diferentes tipos de entretenimento. 

Na sexta-feira, 12 de maio, a festividade começou com um Terço rezado em português no pátio do Artesia D.E.S. e foi seguida de uma “vacada” pela Ganadaria Vieira-Simões.

Veronica Simas explicou que abrir com a “vacada” foi uma forma de atrair participantes das gerações mais jovens, junto dos quais as atividades na praça de touros são sempre muito populares. 

“Achámos que a vacada era uma boa forma de abrir a Festa e trazer os mais novos, para que também pudessem participar na celebração da nossa Mãe Abençoada”, referiu Simas. “Estes jovens gostam mais da vacada do que a geração mais velha. Eles adoram participar nesta tradição”. 

O público na praça era marcadamente jovem, algo frisado por Manuel Coelho, um luso-americano de primeira geração. 

“Os jovens vêm aqui e depois vão a Portugal e fazem a ligação”, afirmou, referindo que a vacada também atrai pessoas de outras comunidades e que o espírito dos portugueses se destaca entre elas. 

“É uma coisa bonita. A maioria das pessoas não tem uma comunidade assim”, apontou. “Juntamo-nos numa grande comunidade e não só praticamos a religião como conhecemos muita gente e fazemos todo o tipo de conexões”. 

Foi para rever amigos luso-americanos e celebrar o seu amor a Nossa Senhora de Fátima que Julia Santos, já nascida nos Estados Unidos de pais açorianos, esteve no salão português de Artesia para o arranque das festividades. 

“Foi aqui que conheci muitos portugueses, foi aqui que aprendi muito da cultura”, recordou. “Há muita gente nova a vir às Festas. Se chegámos aos 75 anos, podemos durar mais 75”, frisou. 

A longevidade das tradições portuguesas nos salões luso-americanos é uma questão que tem sido intensamente debatida, devido à assimilação das novas gerações e à perda da língua portuguesa. 

Mas Veronica Simas apontou para o interesse de lusodescendentes que ajudaram a montar a Festa e compareceram no primeiro dia. “Não falam português, mas sentem-se muito ligados à comunidade”, referiu. 

“Acredito que, com estes jovens, desde que os mantenhamos envolvidos, temos um grupo sólido de pessoas que vão dar seguimento e continuar as nossas tradições durante anos”, avançou. 

O emigrante AC Cabral partilhou o mesmo otimismo, segurando o filho de nove meses nos braços.

“Vai sempre continuar, porque embora muitos não falem português entendem-no e a religião passa entre as gerações”, disse. “Nas horas das aflições, eles sabem quem são os santos a quem têm de pedir”. 

Cabral disse que leva a família a Festas portuguesas sempre que pode, incluindo o Festival Português do Vale de São Joaquim, em Turlock, que aconteceu no passado mês de abril. 

“As Festas do Espírito Santo e de Nossa Senhora de Fátima são enormes aqui nos Estados Unidos”, salientou. 

A primeira noite encerrou com a atuação do DJ Casa Portuguesa, que passou músicas tradicionais e também deu espaço a sons de bandas luso-americanas como os Eratoxica. 

A organização aponta para uma participação em torno de duas mil pessoas num fim de semana que inclui a atuação do cantor Jorge Ferreira, que é extremamente popular entre as comunidades luso-americanas, com a banda 562. 

“Há pessoas que vêm de todos os lados para ver Jorge Ferreira”, indicou Manuel Coelho. 

O concerto de hoje será precedido de uma missa bilingue e Procissão das Velas, no dia em que se comemora a aparição de Nossa Senhora aos pastorinhos, que partirá da Igreja da Sagrada Família e irá até ao salão português.​​​​​​​

O último dia, domingo, coincide com o Dia da Mãe nos Estados Unidos e será uma comemoração muito tradicional, com missa, procissão e sopas açorianas. Depois da atuação das Bandas Filarmónicas de Artesia e de Chino, o 75.º aniversário da Festa de Fátima terminará com uma arrematação e a reza de um rosário.

“Há aqui um aspeto profundamente religioso”, lembrou Veronica Simas, que se mostrou muito emocionada pela adesão da comunidade. 

A presidente da Festa, que domina perfeitamente a língua portuguesa, também se mostrou feliz por ocupar um cargo que no passado era dominado por homens ou casais. 

“Sinto-me muito orgulhosa”, afirmou. “Penso que fica o caminho aberto para a liderança de jovens mulheres na nossa comunidade”. 

ARYG // EA

Lusa/Fim

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