Jovem ilibado de matar duas pessoas nos EUA alega que legítima defesa “não é ilegal”

O adolescente norte-americano Kyle Rittenhouse, ilibado na sexta-feira da morte de dois homens num protesto antirracista em 2020, justificou-se com o facto de a autodefesa não ser ilegal, numa entrevista após o veredicto que deixou o país dividido.

“O júri chegou ao veredicto certo: a autodefesa não é ilegal (…) Tem sido um caminho difícil, mas nós fizemo-lo. Fizemos a parte mais difícil”, afirmou Kyle Rittenhouse, que se tornou a musa de alguma direita americana, na Fox News.

O canal favorito dos conservadores mostrou alguns excertos da entrevista com o jovem de 18 anos, que será transmitida na segunda-feira à noite, em que este aparece visivelmente aliviado, num carro que o traz de volta do tribunal.

Outras imagens centram-se nos pesadelos que Kyle Rittenhouse diz estar agora a viver.

Um porta-voz dos Rittenhouse, David Hancock, revelou mais tarde que a família tinha sido transferida para um local não revelado.

“Estão bem neste momento, estão num local não revelado, são uma família e todos estão felizes”, disse à estação CBS.

Kyle Rittenhouse foi julgado por matar dois homens, com 26 e 36 anos, e ferir um terceiro, no dia 23 de agosto de 2020, na cidade de Kenosha (Wisconsin), com uma espingarda semiautomática AR-15, de que se muniu para acompanhar grupos armados que pretendiam “proteger” os comerciantes durante os protestos antirracistas.

O jovem alegou autodefesa, dizendo que disparou a arma depois de ter sido perseguido e atacado pelos três homens, todos brancos como ele.

No final de um julgamento que abalou a América, e que mais uma vez evidenciou as divisões no país sobre as armas e o movimento Black Lives Matter, os 12 jurados de um tribunal estatal de Wisconsin consideraram Kyle Rittenhouse “inocente” das cinco acusações que impendiam sobre ele, incluindo de homicídio.

“Ainda estamos em estado de choque com este resultado. Não podemos acreditar (…) ele deveria ter apanhado 40 anos de prisão”, disse John Huber, o pai de uma das vítimas, à CNN no sábado. No ecrã, o homem segurava uma pequena urna e uma fotografia, dizendo “este é o meu filho”.

“Se [Kyle Rittenhouse] fosse negro, não teria saído sob fiança” enquanto aguardava julgamento, disse Huber.

Várias centenas de pessoas marcharam em Chicago no sábado atrás do ativista dos direitos civis e reverendo Jesse Jackson, para protestar contra a absolvição de Kyle Rittenhouse, segundo os meios de comunicação locais.

“Ele tem o direito constitucional de se opor, não tem o direito de nos matar”, disse Jesse Jackson ao Chicago Sun Times.

“Stop the war on black America” e “Fight white power” eram as mensagens que se liam nas bandeiras empunhadas na sexta-feira por manifestantes em Nova Iorque, que afirmaram fazer parte do movimento “Black Lives Matters”.

As marchas de protesto também tiveram lugar noutras cidades, como Portland, onde se transformaram em confrontos com a polícia.

Várias celebridades como a cantora Lady Gaga e o antigo futebolista americano Colin Kaepernick denunciaram o veredicto e o Presidente democrata, Joe Biden, disse estar “preocupado e zangado”, ao mesmo tempo que pediu aos cidadãos que respeitassem a decisão do tribunal.

Mas do outro lado do espetro político, o seu antecessor Donald Trump elogiou, na Fox News, a decisão dos jurados, dizendo que o jovem nem sequer deveria ter sido processado.

Um ‘lobby’ a favor das armas, Gun Owners of America, também se comprometeu no Twitter a oferecer uma espingarda AR-15 como recompensa a Kyle Rittenhouse por defender “o direito de estar armado na América”.

AL // JH

Lusa/Fim

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