EUA/Eleições: Um muro, o país dividido e potencial terrorismo na capital

Grades metálicas, contraplacados de madeira, uniformes, veículos militares e armas nas mãos da Guarda Nacional multiplicam-se em Washington, que se protege contra potenciais ações terroristas na posse de Joe Biden como presidente dos EUA, na próxima quarta-feira.

Na sexta-feira, o Pentágono anunciou ter autorizado a deslocação de mais de 25 mil militares para as ruas de Washington, para a proteção de várias zonas, principalmente do National Mall, onde se reúnem os pontos mais importantes da política norte-americana, incluindo a Casa Branca, o Capitólio e outros monumentos emblemáticos.

Várias ruas da capital já estão cortadas, com uma área delimitada por uma cerca ou muro metálico, quase como aquele que o Presidente cessante, Donald Trump, defendeu durante anos e mandou construir nas fronteiras entre Estados Unidos e México.

Só que desta vez, o “muro” está na própria capital do país, protegido por 25 mil militares norte-americanos.

Tudo isto para dar um sentido de segurança à população, depois do que aconteceu em 06 de janeiro, com a invasão do Capitólio por apoiantes de Trump, vindos de vários pontos do país.

O que os 25 mil militares vão combater em Washington é o potencial terrorismo, contra o qual os Estados Unidos querem ser a maior força mundial. Mas este terrorismo não vai ser causado por forças estrangeiras, avisam os serviços secretos. Se existir, será terrorismo doméstico.

A paz está presente, mas nota-se quase um cenário de guerra iminente, de grande tensão, como foi grande parte do século XX, a Guerra Fria entre os Estados Unidos e a União Soviética.

Só que desta vez, a “Guerra Fria” é só dentro dos Estados Unidos, que, em vez de ser um país, está dividido em dois.

O especialista em segurança John Tierney disse, em declarações à agência Lusa, que existem “dois países” que vão passar do poder de Donald Trump para a presidência de Joe Biden, no dia da inauguração, a 20 de janeiro. Um país “Vermelho” e outro “Azul” – cores dos dois partidos políticos rivais dos Estados Unidos, o Republicano e o Democrata, respetivamente.

John Tierney, professor de Relações Internacionais do Instituto de Política Mundial, em Washington, disse que 74 milhões de pessoas do “país Vermelho”, ou seja, apoiantes do partido Republicano, votaram em Donald Trump (cerca de 47% dos votos das eleições de novembro de 2020), enquanto mais de 81 milhões se posicionaram a favor do partido Democrata, votando em Joe Biden e criando a “frente Azul”.

Veículos policiais e militares estão colocados em várias esquinas e obstruem o trânsito, obrigando os carros a parar e apresentar a razão de querer atravessar o território, mesmo que sejam moradores das zonas delimitadas.

Apesar de continuar imponente, com as largas avenidas e verdadeiras obras arquitetónicas, o momento de tensão atual torna Washington um território militar, depois de a segurança ter falhado face a uma insurreição e quase destruição de um dos lugares considerados sagrados para a democracia norte-americana.

Em 06 de janeiro, milhares de apoiantes de Donald Trump e simpatizantes da extrema-direita invadiram o Capitólio, que alberga o Senado e Câmara dos Representantes, que nesse dia reuniam para o último passo da confirmação de Joe Biden como Presidente.

Lara Brown, cientista política, disse ter ficado “perturbada com o ódio e a violência” vistos naquele dia, cujo símbolo mais “inquietante” foi a bandeira da Confederação, alusiva ao período da Guerra Civil nos EUA, de 1861 a 1865, em que um dos grandes motivos para a batalha foi oposição de dois lados sobre a abolição da escravidão.

Nas palavras da diretora da Escola de Pós-Graduação em Gestão Política da George Washington University, a bandeira confederada era também a “rejeição da Constituição e do processo democrático”.

“Ver a bandeira da Confederação, que era um grupo de Estados que queria manter a escravidão, ser exibida no Capitólio, nas costas de manifestantes que não acreditam nos resultados das eleições, foi tão horrível quanto eu poderia imaginar”, concluiu Lara Brown.

Para os especialistas ouvidos pela Lusa e muitos outros especialistas norte-americanos, o principal problema foi a quantidade de desinformação, informações erradas e ‘fake news’ sobre a eleição presidencial defendidas pelo próprio Presidente cessante dos Estados Unidos, Donald Trump.

EYL // JH

Lusa/Fim

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