Afeganistão: Chefe militar dos EUA encontrou-se com negociadores de paz talibãs

O chefe do Estado-Maior das Forças Armadas dos EUA, Mark Milley, encontrou-se esta semana com negociadores de paz dos talibãs e com o Governo afegão, para discutir uma “redução da violência” no Afeganistão.

Os dois encontros não anunciados – em Doha, na terça-feira, e em Cabul, na quarta-feira – serviram para as autoridades norte-americanas avisarem os insurgentes talibãs de que a intensificação dos conflitos colocaria em questão as negociações de paz com o Governo afegão.

Mark Miley reuniu-se durante cerca de duas horas com negociadores dos talibãs, em Doha, no Qatar, na terça-feira, tendo voado para Cabul, na quarta-feira, para discutir o processo de paz com o Presidente afegão, Ashraf Ghani.

Os encontros ocorrem durante o processo de redução dos efetivos militares norte-americanos no Afeganistão, embora a retirada completa dos soldados fique dependente do fim dos ataques por parte das forças talibãs.

“A parte mais importante das discussões que tive com os talibãs e com o Governo do Afeganistão foi a necessidade de uma redução imediata da violência”, disse Milley, explicando que todo o processo seguinte fica dependente desta variável.

Embora Milley não tenha relatado qualquer avanço nas negociações, os seus encontros com os talibãs representam um marco relevante, já que permitiram aos talibãs e ao Governo afegão, as duas partes do processo de paz, encontrarem-se presencialmente com o principal comandante militar dos EUA.

O general do Exército Scott Miller, principal comandante das forças dos EUA e da coligação internacional no Afeganistão, disse numa entrevista a partir do seu quartel-general em Cabul, na quarta-feira, que os talibãs intensificaram os ataques às forças afegãs, particularmente nas províncias de Helmand e Kandahar, no sul do país.

“A minha avaliação é que isso coloca em risco o processo de paz. Quanto maior a violência, maior o risco”, comentou Miller, que se tem reunido frequentes vezes com os talibãs, como parte do esforço de Washington para promover o processo de paz.

No chamado acordo de Doha, assinado em fevereiro passado pelos Estados Unidos e pelos talibãs, o Governo do Presidente Donald Trump concordou com uma retirada gradual das tropas americanas, reduzindo a zero o número de soldados, até maio de 2021, se as condições do acordo forem mantidas.

Uma das condições é a redução da violência por parte dos talibãs, através de um cessar-fogo, mas os insurgentes têm exigido a suspensão dos ataques aéreos norte-americanos, que têm sido conduzidos em apoio às forças do Governo afegão.

Miller confirmou que está a executar as instruções de Trump, para reduzir as forças norte-americanas de 4.500 para 2.500 soldados até 15 de janeiro, poucos dias antes de o Presidente eleito, Joe Biden, tomar posse como 46.º Presidente dos EUA.

Biden ainda não disse publicamente se continuará a retirada do efetivo militar ou como procederá no cumprimento do acordo de Doha, negociado pelo enviado de paz de Trump, Zalmay Khalilzad.

“Acho que só deveríamos ter tropas lá para garantir que será impossível ao [grupo ‘jihadista’] Estado Islâmico ou à [rede terrorista] Al-Qaeda restabelecerem um ponto de apoio”, disse Biden, numa entrevista televisiva, em fevereiro.

RJP // FPA

Lusa/Fim

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