Web Summit: “Portugal passou de país desconhecido” para a tecnologia para “completamente o oposto”
O presidente executivo da Web Summit afirmou hoje à Lusa que em mais de seis anos “Portugal passou de país desconhecido” para a tecnologia para “completamente o oposto” e destacou a cibersegurança como um dos tópicos da edição deste ano.
A sétima edição da Web Summit, que conta com mais de 70.000 participantes, 2.630 ‘startups’ e empresas, 1.120 investidores e 1.040 oradores, arranca em Lisboa no dia 01 de novembro e termina em 04 de novembro.
A primeira edição daquela que é considerada a maior cimeira tecnológica do mundo arrancou em 2016.
“Quando chegámos aqui no primeiro ano, quase todos os jornalistas internacionais que contactámos, todos os oradores perguntavam-nos: ‘Porquê Portugal? Porque é que a Web Summit vai a Portugal?’ Seis anos depois, não poderia ser mais diferente”, afirmou o CEO e cofundador, Paddy Cosgrave.
“Portugal passou de um país desconhecido para a tecnologia, Lisboa de uma desconhecida capital de tecnologia para completamente o oposto. [Portugal] é efetivamente o mais falado. Lisboa é certamente o tipo de cidade mais comentada do mundo para pessoas que abrem empresas, pessoas em criptomoedas e o volume de pessoas que se mudaram para cá tem sido incrível”, salientou.
E “esperamos que a Web Summit tenha desempenhado um pequeno papel nessa mudança de perceção de Portugal e de Lisboa”, acrescentou, quando instado a fazer um balanço deste tempo em Portugal.
Questionado se vê isto de uma forma positiva, afirmou: “Eu penso que sim”.
Relativamente aos destaques deste ano, Paddy Cosgrave disse que “há muitas coisas”, desde “a escala”, passando pela “venda [dos bilhetes que ficaram esgotados mais cedo do que nunca] há três semanas”.
Além disso, “haverá um orador muito interessante na noite de abertura que não será revelado” até lá e “as pessoas já estão a tentar a adivinhar quem pode ser”, disse, sem descortinar se é homem ou mulher.
Na edição deste ano a questão da cibersegurança vai estar em debate, já que continua a ser “um grande problema”.
Não apenas do ponto de vista de segurança individual, das palavras-chave de cada indivíduo e dos portáteis e dispositivos, “mas também a cibersegurança” a nível do país.
“Como é que podemos proteger a integridade das eleições, da democracia? Algumas das principais figuras da NATO irão estar a falar sobre isso”, tal como presidentes executivos “de algumas empresas de cibersegurança mais importantes do mundo”, prosseguiu.
Isto “é algo novo”, salientou Paddy Cosgrave.
Além disso, haverá também lugar para ‘whistleblowers’ [denunciantes], destacou.
“Nós amamos denunciantes”, sejam eles o Edward Snowden [que denunciou práticas de espionagem da Agência de Segurança Nacional (NSA) dos EUA] ou Frances Haugen [ex-funcionária do Facebook e denunciante da empresa”, os quais já participaram na Web Summit.
“Agora temos um ‘whistlebower’ da Uber com algumas histórias importantes para contar”, prosseguiu, salientando que há também uma nova geração de empresas, “as pessoas vêm à Web Summit para descobrir o futuro”.
A maioria dos jornalistas e dos participantes “não estão lá para descobrir as empresas que já conhecem, as ‘Apples’, os ‘Googles’, os ‘Facebooks’ deste mundo”, mas para “encontrar empresas das quais nunca ouviram falar” e isso “pode desempenhar um papel muito importante no futuro”.
No ano passado, a estrutura europeia dedicada ao empreendedorismo Europa Startup Aliança das Nações (ESNA) foi lançada no palco principal da Web Summit.
A Europe Startup Nations Alliance (ESNA) é a primeira entidade com a missão de apoiar os governos europeus na melhoria das condições estruturais para as ‘startup’, para garantir que possam crescer em qualquer estágio do seu ciclo de vida.
Questionado sobre a ESNA, Paddy Cosgrave salientou que “é incrível” que isso esteja a acontecer na Web Summit.
“É muito positivo ver ministros, secretários de Estado a envolverem-se, subindo ao palco, reunindo seus homólogos de toda a Europa. E talvez seja uma visão de como a Web Summit pode ser usada para mais no futuro, como uma capacidade de reunir iniciativas como esta” na cimeira tecnológica, o que classificou de “fantástico”.
Em termos de ‘startup’ portuguesas presentes no evento, “temos o maior número de sempre” e a participação do Brasil cresceu muito.
“A nossa estratégia tem sido de criar eventos em partes do mundo onde a participação é muito menor em comparação com a Europa e a América do Norte”, que é de onde veem a maioria dos participantes e empresas.
“Estamos a lançar eventos regionais”, mais pequenos, em todo o mundo, recordou, apontando o anúncio do primeiro, em Tóquio, Japão, e depois do Rio de Janeiro, no Brasil.
“E o impacto disso antes mesmo do primeiro evento é aumentar drasticamente a participação do Brasil, com 20.000 participantes extra do Brasil que nunca tivemos antes”, o que significa “muito mais falantes de português potencialmente no evento”, disse.
Quanto à participação de mulheres na cimeira tecnológica, o cofundador e CEO da Web Summit salientou que os números oficiais serão divulgados durante o evento, mas que esta continua “alta”.
Desde que a Web Summit se realiza em Portugal foram vários os acontecimentos que mudaram o curso da história: o ‘Brexit’, Donald Trump foi eleito Presidente dos Estados Unidos, a pandemia e, mais recentemente, a guerra na Ucrânia.
Questionado como vê o mundo nestes últimos seis anos, Cosgrave afirmou: “Talvez, em alguns aspetos, tenha mudado muito, talvez em outros (…) não tenha”.
Enquanto “europeu orgulho, gosto de esperar que, tanto quanto possível, as relações e o mundo possam ser mantidos com base na paz e na parceria”, considerou.
Tomando a China como exemplo, Paddy Cosgrave salientou que a participação do país “diminuiu drasticamente” na Web Summit, embora o motivo também seja a pandemia, porque ainda há restrições.
Mas “quando essas restrições forem levantadas espero que a participação da China aumente e espero que quando chegarmos a 2023 o mundo seja mais pacífico”, pois “muitas coisas aconteceram nos últimos seis anos”.
A Web Summit “não teve qualquer papel em nenhuma destas coisas terríveis, mas tenta ser um lugar para discutir questões às vezes difíceis”.
Todos os anos a Web Summit tem oradores em palco dos qual a organização recebe várias objeções.
Pode ter que ver com a China e os Estados Unidos, o CTO da Casa Branca e o ‘chairman’ da Huawei, salientou, destacando objeções de vários países do mundo, algumas de grandes empresas.
Na edição deste ano há 1.040 oradores, “a maior de sempre a ter conversas diversas e desafiantes”, apontou.
“Não vamos concordar com todos os 1.040 oradores, mas está bem”, são opiniões diferentes, alguns acreditam “que deveríamos ser mais duros na China com as sanções, outros não acreditam que deva haver qualquer sanção”, prosseguiu, referindo que há muitos debates na Web Summit.
“Acho que o importante é ver essas pessoas a discordar entre si em palco, ouvir os seus argumentos e depois deixar as pessoas tomarem as suas próprias decisões”, defendeu.
Relativamente às expetativas para esta edição, Cosgrave disse que vai ser muito atarefada e o “de longe a mais movimentada de todos os tempos”, salientando que o espaço de expositores cresceu “60%”, tal como aumentou “drasticamente” o espaço ao ar livre.
Recordou que outros eventos no mundo acabaram, na sequência da pandemia, mas que a Web Summit está de volta mais ocupada do que nunca.
“Estou ansioso por ver multidões”, admitiu.
A edição deste ano vai ter alguns palcos que vão estar disponíveis ‘online’, referindo que não há bilhetes ‘online’.
ALU // CSJ
Lusa/Fim