Ucrânia: Forças russas registam em Donetsk limitações já verificadas em Lugansk – instituto EUA

As forças russas estão a obter ganhos territoriais marginais em Bakhmut, uma cidade da província ucraniana de Donetsk, mas registam as mesmas limitações que as impediram previamente de avanços substanciais em Lugansk, indica um relatório norte-americano.

De acordo com o Instituto para o Estudo da Guerra (ISW, na sigla em inglês), o exército russo não está a conseguir assumir o controlo total da cidade de Bakhmut, na província de Donetsk, leste da Ucrânia, enquanto conduzem ataques terrestres limitados a norte da cidade de Kharkiv (nordeste) e a leste de Siversk, ainda na região de Donetsk.

Segundo o ISW – fundado em 2007 no decurso da intervenção dos EUA no Iraque e que tem como missão “melhorar a capacidade do país para executar operações militares e responder a ameaças emergentes com o objetivo de garantir os objetivos estratégicos” norte-americanos –, as forças russas também continuam a fortificar e reforçar posições em Zaporijia, sudeste da Ucrânia e junto às margens do rio Dniepre, e em Kherson, no sul, numa antecipação de uma anunciada contraofensiva ucraniana.

Por sua vez, prossegue o ISW no seu último relatório sobre a situação no terreno, as forças ucranianas continuam a flagelar bastiões russos ao longo do eixo sul, com Moscovo a enviar novo material para a linha da frente e quando se depara com crescentes dificuldades em reparar os veículos de combate danificados.

Em paralelo, e nas regiões controladas pelas autoridades das repúblicas separatistas russófonas de Donetsk e Lugansk, prosseguem os preparativos para a anexação desses territórios à Federação Russa e o reforço do controlo administrativo nas áreas ocupadas da Ucrânia.

O ISW cita um documento russo intitulado “Estratégia para a preparação e concretização do referendo sobre o acesso da República Popular de Donetsk à Federação Russa”, emitido na segunda-feira, que “indica que os responsáveis oficiais russos desta região ocupada preveem uma participação de 70% e 70% de aprovação num falso referendo na República Popular de Donetsk”.

“As autoridades da ocupação baseiam os seus cálculos na população de toda a província de Donetsk, mas o documento assinala de forma incongruente que apenas um terço dos civis permanece nas áreas ocupadas pela Rússia”, adianta o ISW.

O relatório do ISW adianta que os responsáveis locais “prosseguem os esforços para obrigar os civis ucranianos nos territórios ocupados a registarem-se com passaportes russos e a usar o rublo em 25 de julho”. Indica ainda existirem informações de “terem começado a ser emitidos certificados de nascimento russos para crianças na província ocupada de Zaporijia, numa antecipação para que essas crianças sejam registadas com passaportes russos caso as suas famílias pretendam sair da província”.

A Ucrânia e os principais aliados, Estados Unidos e Reino Unido, têm considerado por sua vez que a campanha militar russa na Ucrânia entrou numa fase crítica para Moscovo devido à dificuldade em manter a sua ofensiva, cinco meses após o início do conflito.

“Quando recebemos os HIMARS [lança-foguetes múltiplos de fabrico norte-americano], propagou-se o pânico no exército russo. Os centros logísticos e arsenais caíram sob o nosso fogo, à semelhança dos centros de tomada de decisão táticas”, declarou recentemente Mykhailo Podoliak, assessor do Presidente ucraniano.

Um “estado de pânico” que segundo o mesmo representante “é sentido pelas pessoas nas regiões” ocupadas pela Rússia, que “compreendem que tudo mudará”. ´

Segundo o comando ucraniano, as forças russas foram forçadas a utilizar unidades de reserva para defender as posições ocupadas no sul da Ucrânia e evitar o contra-ataque ucraniano.

“O inimigo está a defender as posições previamente ocupadas, está a concentrar os seus esforços para evitar a ofensiva das Forças de Defesa e introduziu unidades de reserva”, revelou na mesma ocasião o alto comando ucraniano.

Segundo a Direção Principal de Inteligência Ucraniana (GUR), enquanto as tropas russas utilizaram entre 55% e 60% da sua reserva de mísseis de alta precisão, a Ucrânia está a receber cada vez mais armas poderosas e precisas, em particular norte-americanas.

O porta-voz do GUR, Vadym Skibitksy, já indicou que a Rússia utiliza com cada vez menos frequência os seus mísseis de alta precisão, que incluem os sistemas Kh-101, Kh-555, Iskander e Kalibr, devido ao efeito das sanções ocidentais que limitam o acesso a componentes eletrónicos necessários para estes sistemas.

O próprio Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, congratulou-se com esta alteração da relação de forças, ao afirmar na passada sexta-feira que “os HIMARS se tornaram numa palavra habitual para nós, igual ao Javelin ou NLAW, como o ‘Stugna’ ou o ‘Neptun’”.

Zelensky destacou os esforços do Governo ucraniano para aceder aos “sistemas modernos de defesa área, que estamos a pedir aos nossos parceiros”, e assegurou que “o terror russo deve ser derrotado. E esta será a nossa vitória conjunta, dos povos ucraniano e norte-americano”.

Numa resposta a esta anunciada alteração da relação de forças, o comando russo não parece disposto a alterar os seus planos, em particular após o ministro da Defesa, Serguei Shoigu, ter ordenado a destruição destes sistemas de mísseis norte-americanos.

O Ministério da Defesa russo reivindicou que, entre 05 e 20 de julho, as tropas russas destruíram com mísseis de alta precisão “quatro lançadores HIMARS de fabrico norte-americano e um camião com munições” para estes sistemas, e que a Ucrânia começou a receber em junho.

O Ministério da Defesa russo reivindicou ainda que quatro sistemas de lança-foguetes múltiplos foram destruídos em diversos pontos da região de Donetsk, cenário dos principais combates entre as forças russas e ucranianas, após Moscovo ter proclamado vitoria há algumas semana na vizinha província de Lugansk.

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Lusa/Fim

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