Trump considerado culpado em processo de encobrimento de escândalo sexual

O ex-presidente dos EUA Donald Trump foi hoje condenado no julgamento criminal em que era acusado de ter falsificado documentos para encobrir um escândalo sexual.

O juiz do tribunal de Manhattan Juan Merchan, que preside a este julgamento sem precedentes contra um ex-presidente dos Estados Unidos, tinha ordenado que o júri de 12 pessoas – sete homens e cinco mulheres – se retirasse à porta fechada para deliberar sobre um caso em que Trump é acusado de 34 falsificações de documentos contabilísticos.

Na quarta-feira, os jurados debateram durante mais de quatro horas, sem chegar a uma decisão, algo que só aconteceu hoje, levando a que Trump fosse considerado culpado em todas as 34 acusações.

O julgamento durou seis semanas, foi dominado por história de sexo, dinheiro e política e o veredicto pode ter consequências desconhecidas para a campanha eleitoral das presidenciais de 05 de novembro, em que Trump defrontará o democrata e presidente em exercício, Joe Biden.

O Ministério Público de Nova Iorque alegou que o 45.º presidente dos Estados Unidos (2017-2021) era culpado de falsificar os documentos contabilísticos do seu grupo de empresas, a Organização Trump, para ocultar um pagamento à atriz de filmes pornográficos Stormy Daniels para evitar um escândalo sexual, no final da sua campanha presidencial de 2016.

Durante as sessões do julgamento, a atriz de filmes pornográficos Stormy Daniels detalhou de forma pormenorizada a relação sexual que teve com o ex-presidente.

Trump negou sempre ter tido qualquer relação sexual com Stormy Daniels e apresentou-se como vítima de uma cabala política, tendo recusado fazer qualquer depoimento durante o julgamento.

Michael Cohen, ex-advogado pessoal do ex-presidente, garantiu em tribunal que Donald Trump o instruiu a pagar 130 mil dólares (cerca de 110 mil euros) à atriz em troca do seu silêncio sobre este caso extramatrimonial, no final da campanha presidencial de 2016, versão também negada pela defesa.

Os procuradores insistiram que através deste pagamento – que compararam a uma despesa oculta de campanha – Donald Trump corrompeu a eleição de 2016, ao comprar o silêncio da atriz sobre essa relação sexual, que ela afirma ter ocorrido em 2006, quando este já era casado com Melania.

Contudo, o júri não decidiu sobre a existência deste caso sexual, mas sobre se Trump era culpado de 34 falsificações de documentos contabilísticos para ocultar o reembolso do pagamento a Michael Cohen, ao longo de 2017.

Esse crime é uma violação da lei eleitoral do estado de Nova Iorque, que proíbe a promoção de uma candidatura por meios ilegais.

Trump chegou mesmo a dizer que o juiz que presidiu ao julgamento era “corrupto” e defendeu que “este processo nunca deveria ter acontecido”, sendo uma manobra política orquestrada pela Casa Branca do seu rival Biden.

Ao longo do julgamento, a defesa procurou ainda questionar a credibilidade da principal testemunha de acusação, Michael Cohen, o antigo advogado de Donald Trump, para semear dúvidas no júri, que apenas poderia condenar o ex-presidente havendo uma decisão unânime.

Agora, não caberá aos jurados, mas sim ao juiz, definir a sentença, dentro de algumas semanas .

A prisão é teoricamente possível, sendo a falsificação de documentos contabilísticos punível com pena de até quatro anos de cadeia, no estado de Nova Iorque.

Contudo, na ausência de antecedentes criminais do arguido de quase 78 anos, o juiz pode aliviar a sentença, com uma pena suspensa com liberdade condicional ou serviço comunitário, bem como uma multa.

Em qualquer caso, Donald Trump poderá recorrer, com provável efeito suspensivo da sua pena, nomeadamente em caso de prisão.

RJP/TDI // TDI

Lusa/Fim

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