Tribunal britânico autoriza Julian Assange a recorrer contra extradição para EUA

O fundador do portal WikiLeaks, Julian Assange, foi autorizado a recorrer do pedido de extradição do Reino Unido para os Estados Unidos da América (EUA), decidiu hoje o Tribunal Superior de Londres.

Os juízes Victoria Sharp e Jeremy Johnson consideraram que Assange tem motivos para contestar a ordem de extradição do Governo britânico.

A data do recurso não foi ainda determinada, mas deverá prolongar o processo durante mais vários meses. 

Assange, que está preso na prisão de alta segurança de Belmarsh (em Londres) desde 2019, não compareceu no tribunal por razões de saúde física e mental.

Numa decisão em março, o tribunal considerou válidos três dos nove argumentos apresentados pela defesa de Assange contra a extradição e exigiu mais garantias às autoridades norte-americanas. Na decisão, datada de 26 de março, os juízes tinham autorizado provisoriamente Assange a recorrer de partes do seu processo se Washington não desse algumas garantias.

Na ocasião, os juízes deram aos Estados Unidos três semanas para apresentarem “garantias satisfatórias” que o Assange podia invocar a Primeira Emenda da Constituição, que protege a liberdade de expressão, e que teria os mesmos direitos que um cidadão norte-americano. O tribunal também pediu garantias de que não seria aplicada a pena de morte.

Os EUA acusam Assange de 18 crimes de espionagem e de intrusão informática pelas revelações feitas no portal WikiLeaks através da divulgação de documentos confidenciais, que em 2010 e 2011 expuseram violações de direitos humanos cometidas pelo exército norte-americano no Iraque e no Afeganistão.

Na audiência realizada hoje de manhã na capital britânica, os advogados de Assange argumentaram que os EUA deram garantias “manifestamente inadequadas”.

O advogado Edward Fitzgerald alegou que os procuradores não conseguiram garantir que Assange, que é cidadão australiano e reivindica proteção como jornalista por ter publicado informações confidenciais dos EUA, pudesse contar com a proteção da imprensa prevista na Primeira Emenda da Constituição norte-americana.

“A verdadeira questão é saber se foi dada uma garantia adequada para eliminar o risco real identificado pelo tribunal”, disse Fitzgerald. 

Os advogados de Assange argumentaram que, enquanto jornalista, o fundador do WikiLeaks expôs irregularidades militares dos EUA no Iraque e no Afeganistão.

O Governo dos EUA alega que as ações de Assange foram muito além das de um jornalista que recolhe informações, constituindo uma tentativa de solicitar, roubar e publicar indiscriminadamente documentos confidenciais.

Washington quer julgar Assange pela divulgação de mais de 700 mil documentos secretos e é acusado pelas autoridades norte-americanas ao abrigo da Lei de Espionagem de 1917, podendo ser condenado até 175 anos de prisão.

Assange foi detido pela polícia britânica em 2019, após sete anos de reclusão na embaixada do Equador em Londres, onde se refugiou para evitar ser extraditado para a Suécia, onde era acusado de violação. Desde então encontra-se na prisão de alta segurança de Belmarsh, no leste da capital britânica.

BM // SCA

Lusa/Fim

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