Senador luso-americano alerta portugueses para riscos de deportação em nova era Trump

O senador luso-americano de Connecticut, Rick Lopes, alertou os portugueses indocumentados nos Estados Unidos para os riscos reais de deportação, advogando que o Presidente eleito, Donald Trump, “não se importa se são bons ou maus imigrantes”.

Filho de imigrantes de Mira de Aire, o democrata Rick Lopes tornou-se em janeiro de 2021 no único senador luso-americano no estado de Connecticut, tendo sido reeleito no passado dia 05 de novembro.

Em entrevista à Lusa, o pequeno empresário, que foi convencido por amigos a entrar no mundo da política norte-americana, acompanhou de perto o percurso de imigração dos pais, que, com uma vida preenchida por “trabalho duro”, “fazem parte daquilo que tornou grande” os Estados Unidos.

Por conhecer bem a realidade da imigração, mas também a realidade da política norte-americana, Rick Lopes deixou um alerta aos portugueses indocumentados: “A minha mensagem é que devem estar preocupados, porque [Trump] é alguém que não se importa com vocês. Apesar do que ele diz, ele não se importa com as pessoas que vêm para este país para torná-lo forte”, advogou.

Donald Trump, que foi eleito no início do mês o 47.º Presidente norte-americano, teve como uma das suas maiores bandeiras de campanha a promessa de concretizar a “maior deportação em massa da história” de imigrantes ilegais, a quem acusou de “envenenar o sangue” dos Estados Unidos.

Há cerca de 11 milhões de imigrantes indocumentados nos EUA, segundo estimativas do Departamento de Segurança Interna referentes a 2022, o ano mais recente com dados disponíveis — embora Trump tenha afirmado, sem provas, que o número real é cerca do dobro.

Apesar da aparente contradição, muitos imigrantes indocumentados portugueses apoiam Donald Trump e acreditam que não serão abrangidos pelos planos de deportação do magnata republicano.

“Eles acham que são os bons imigrantes, não os maus imigrantes. O que eles não entendem é que vão ser vistos como qualquer imigrante. O Governo de Trump não se importa se vocês são bons ou maus, não se importa se vocês trabalham duro ou não. Ele vai simplesmente rotular-vos como imigrantes sem documentos e vai atrás de vocês”, defendeu Lopes.

Apesar da ala mais radical do Partido Republicano ter usado a campanha presidencial para rotular os imigrantes que entraram pela fronteira sul do país como “criminosos”, o senador observou que essas pessoas não são diferentes dos seus pais, que emigraram para os Estados Unidos para proporcionar uma vida melhor à sua família.

“Há muita informação falsa, de que são criminosos e preguiçosos. Mas a maioria dos imigrantes que vêm para este país ainda trabalha muito duro e quer trabalhar e criar uma família. E precisamos dessas pessoas para ter uma economia forte”, reforçou o democrata.

Antes de chegar a senador, Rick Lopes começou o seu percurso político pelo Conselho Municipal em New Britain e, posteriormente, foi eleito para a Câmara dos Representantes de Connecticut, onde ficou por uma década.

Hoje, é também vice-líder da maioria no senado estadual de Connecticut e lidera o Comité de Meio Ambiente, sendo responsável por melhorar a eficiência energética em edifícios e ajudar os proprietários a economizar.

Apesar de nas eleições de 05 de novembro o Partido Democrata ter conseguido vitórias significativas na região de Rick Lopes, a nível nacional o cenário foi diferente, com o Partido Republicano a conseguir conquistar não só a Presidência, como também o controlo do Congresso federal.

O luso-americano confessou à Lusa estar “um pouco deprimido” com o novo voto de confiança dado pelos norte-americanos a Donald Trump, a quem não poupou nas críticas.

“Ele é um líder muito fraco e não tem muito respeito no mundo. Fui a Portugal em junho e os meus familiares, assim como as pessoas com quem me cruzei, não acreditavam que elegeríamos alguém como ele. Ele é muito fraco e não é muito inteligente. Acho que o país vai sobreviver, mas seremos mais fracos daqui a quatro anos do que somos agora”, avaliou o senador estadual.

“Estou um pouco deprimido, na verdade. Eu gostaria de pensar que os americanos são mais espertos do que isto, que nós não estamos dispostos a seguir alguém que age como um fascista e, ainda assim, metade do país mostrou estar disposto a seguir alguém que age como um fascista. E vemos o fascismo em todas as partes do mundo a voltar”, lamentou Lopes.

Questionado pela Lusa sobre os polémicos nomes escolhidos por Trump para integrar o seu Governo – alguns acusados de má conduta sexual -, o político luso-americano considerou “assustador” que o magnata esteja a “escolher pessoas para cargos muito importantes que não têm experiência e nenhum conhecimento sobre o trabalho importante” que irão desempenhar.

“Eu não contrataria um canalizador que não soubesse tratar de canalizações. Eu não contrataria um mecânico que nunca pôs as mãos num carro. Eu acho que não devemos ter pessoas em cargos de gabinete que nunca trabalharam nessa área antes, até porque sabemos que só coisas más vão sair dali. (…) É assustador”, frisou Rick Lopes, em entrevista à Lusa.

MYMM // PDF

Lusa/Fim

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