Rússia e China são agora prioridades militares dos EUA, não o terrorismo
As duas novas prioridades da estratégia militar dos Estados Unidos passam por contrariar a rápida expansão da capacidade militar da China e a agressividade da Rússia, relegando para segundo plano o combate ao terrorismo, indicou hoje o Pentágono.
A nova estratégia de defesa nacional norte-americana indica que a concorrência da China e da Rússia ameaça a vantagem militar dos EUA pelo mundo, pelo que será necessário fazer investimentos cada vez maiores para tornar as forças armadas americanas “mais letais, ágeis e prontas para a guerra”, indicou a agência de notícias Associated Press.
“Vamos continuar a exercer uma campanha contra os terroristas, mas a concorrência das grandes potências – e não o terrorismo – é agora o principal foco da segurança nacional dos EUA”, anunciou o secretário da Defesa norte-americano, Jim Mattis, num discurso na Escola Johns Hopkins de Estudos Internacionais Avançados, em Washington.
O responsável considerou como derrotado o “califado físico” proclamado pelo ‘jihadista’ Estado Islâmico no Iraque e na Síria, mas advertiu que aquele grupo extremista, a Al-Qaida e outros grupos congéneres continuam a constituir ameaças em todo o mundo.
O documento de estratégia militar refere de forma recorrente a preocupação dos Estados Unidos quanto ao crescimento da presença militar da China do mar do Sul da China, quanto às suas movimentações para alargar a influência política e económica a todo o mundo, e também quanto à sistemática campanha de ciberataques realizada por Pequim, que se traduzem em roubo de dados a agências governamentais e corporações privadas nos EUA.
Por outro lado, salienta a preocupação dos Estados Unidos quanto às movimentações militares agressivas da Rússia, incluindo a invasão da Ucrânia e o envolvimento na guerra da Síria, bem como a sua interferência nas eleições presidenciais americanas de 2016.
Os altos responsáveis do Pentágono (o centro de comando militar dos EUA) divulgaram hoje uma versão não confidencial de 11 páginas da estratégia, afirmando que constitui “um mapa” para uma “mudança fundamental” de foco dos militares norte-americanos.
“Temos feito muitas coisas nos últimos 25 anos, e na verdade temos estado focados em outros problemas, pelo que esta estratégia representa uma mudança fundamental ao dizer ‘olhem, em certo sentido temos de voltar atrás, de voltar ao básico, ao potencial para a guerra'”, considerou Elbridge Colby, o vice-Secretário adjunto da Defesa para a Estratégia.
“Esta estratégia diz que o foco será o de dar prioridade à preparação para a guerra, em particular guerra contra grandes potências”, concluiu.
Vários antecessores de Mattis alertaram durante anos para o crescimento da China – o que levou a administração Obama a concentrar-se mais na região da Ásia-Pacífico, incluindo a mobilização de mais navios e tropas para a região. Por outro lado, o apelo desta nova estratégia ao fortalecimento de alianças assemelha-se mais às estratégias das anteriores administrações do que à mensagem “A América Primeiro” – sobre segurança nacional – divulgada em dezembro pelo Presidente Donald Trump.
O documento do Pentágono diz agora que os aliados e parceiros dos EUA são cruciais e podem fornecer capacidade adicional e acesso a outras regiões do globo.
Trump considerou ao longo do seu primeiro ano de mandato que a Aliança Atlântica NATO era uma estrutura anacrónica e ultrapassada, e exigiu que os outros membros dedicassem mais dinheiro dos seus orçamentos à defesa.
“Não estamos em 1999, quando alguns diriam que os EUA podiam fazer tudo sozinhos (…) Há uma realidade prática, que é a de que precisamos de fazer as coisas em conjunto, temos de ser mais interoperáveis, temos de poder dividir missões de forma construtiva”, salientou Colby.
Questionado sobre se o terrorismo deixa de ser uma prioridade de topo, Colby disse que continua a ser uma “ameaça séria e premente” e que o Irão e a Coreia do Norte “são problemas urgentes”.
No entanto, ressalvou, o principal desafio dos militares dos Estados Unidos é a “erosão da vantagem militar dos EUA face à China e à Rússia que, se não for acautelada, pode – em última análise – minar a capacidade [dos EUA] de deter a agressão e a coação”.
Ainda assim, Colby acrescentou que os EUA continuam a procurar formas de cooperar com a Rússia e a China, afirmando que esta “não é uma estratégia de confronto”.
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