Novo filme da Pixar “Soul” explora origem das almas com primeiro protagonista negro

O novo filme da Pixar, “Soul”, que se estreia na sexta-feira, é a primeira longa-metragem do estúdio de animação que se centra num protagonista negro, interpretado pelo ator Jamie Foxx.

Tina Fey, Angela Bassett e Phylicia Rashad dão voz às outras personagens principais, sendo que o filme tem também a participação da atriz brasileira Alice Braga.

“Penso que a nossa cultura é incrível. E muita gente, particularmente em Hollywood, diz que para apelarmos a uma audiência mais vasta temos de nos afastar dela”, disse o correalizador Kemp Powers, numa conversa com jornalistas em Los Angeles, sobre a identidade afro-americana retratada no filme.

Incluído na lista de melhores filmes de 2020 do antigo presidente dos Estados Unidos Barack Obama, “Soul” conta a história de Joe Gardner, um professor de música numa escola preparatória em Nova Iorque, cujo sonho é ser um pianista de jazz profissional.

“Senti que esta era uma oportunidade maravilhosa de fazer algo de que a minha família tivesse orgulho e em simultâneo fosse algo que toda a gente pode apreciar, mostrando como a experiência afro-americana e a nossa humanidade são tão universais como as de quaisquer outros”, acrescentou o correalizador.

A atriz e cantora Angela Bassett, que dá voz à estrela Dorothea Williams, frisou a importância da representação de diversidade no formato animado, algo que tem sido raro até agora.

“Isto tem muito significado”, afirmou. “É excelente começarmos cedo com a ideia de que a humanidade é vasta e diversa”.

A produtora Dana Murray explicou que a Pixar trabalhou com uma equipa de consultores, como a antropóloga Johnetta Cole e o músico Questlove, para garantir a autenticidade dos personagens e da cultura representada.

A história de Joe Gardner, que parece ir numa certa direção, muda por completo quando um incidente o atira para um lugar fantástico conhecido como “O Grande Antes”, o sítio onde as almas novas ganham as suas características antes de descerem à Terra para nascerem numa pessoa.

Tina Fey interpreta uma dessas almas, chamada 22, que tem dificuldade em encontrar a faísca que apaixona a alma de cada ser humano.

“O filme leva as pessoas a refletirem nestes tópicos, e uma coisa interessante que faz é levar-nos para lá da ideia de encontrarmos aquilo que nos apaixona na vida”, disse Tina Fey. “Também abre a ideia de que uma paixão assolapada pode consumir a nossa vida. Isso significa que estar presente é tão importante como conquistar o que queremos”.

O produtor executivo Pete Docter, que escreveu o argumento com Kemp Powers e Mike Jones, explicou que uma das intenções do filme é fazer refletir no valor intrínseco de cada um.

“Muitos de nós crescemos com a ideia de que temos de conquistar a nossa dignidade”, afirmou. “Um dos objetivos do filme é dizer que só por estarmos vivos, somos valorizados. Já somos o suficiente. Todos nós merecemos aproveitar o que a vida tem para oferecer”.

Esta ideia subjacente tornou-se mais importante por causa da pandemia de covid-19, que modificou os planos de distribuição da Disney Pixar mas também deu novo contexto aos temas existenciais retratados.

“É um momento tão incrivelmente estranho pelo que estamos a passar”, disse Jamie Foxx. “Tem mesmo de acontecer algo bom, e penso que isto é algo ótimo. Penso que, quando as pessoas virem, será incrível”.

Tina Fey também abordou o tema: “Todos estamos a avaliar o que significa ter tido um bom ano” em 2020 e a repensar o que é ter sucesso. “Agora, significa muitas vezes encontrar pequenas alegrias e estar presente com as pessoas que amamos”, disse a atriz.

Apesar de ter a estética de animação característica da Pixar, “Soul” introduz códigos visuais que não são habituais no estúdio, em particular com os conselheiros Jerry do “Grande Antes”, que são linhas a duas dimensões.

De acordo com Pete Docter, a inspiração para eles e para os cenários fantásticos de onde as almas proveem foi retirada de Exposições Mundiais dos anos 40 a 60, com muitas formas abstratas.

“Isto parece que foi o destino”, disse Kemp Powers. “O filme devia ter saído em junho. Agora parece o filme perfeito para as festas, aquilo que queremos ver no dia de Natal depois de um ano muito difícil”.

“Soul”, disse Phylicia Rashad, não mudou a sua perspetiva sobre a vida, mas reafirmou-a. “Sempre quis que os meus filhos entendessem que a vida é um contínuo, que não começa aqui e acaba ali”, afirmou a atriz. “Entender isso é incorporar uma espécie de ausência de medo e também de aceitação”.

“Soul” estreia no serviço de ‘streaming’ Disney+ a 25 de dezembro.

ARYG // TDI

Lusa/Fim

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