MoMA exibe ciclo dedicado ao espírito revolucionário do cinema português
Um ciclo dedicado ao cinema português que percorre 50 anos de história, do realizador Manoel de Oliveira a Miguel Gomes, vai decorrer entre outubro e novembro no Museu de Arte Moderna (MoMA) de Nova Iorque, segundo a programação.
Intitulado “The Ongoing Revolution of Portuguese Cinema” (“A revolução em curso no cinema português”, em tradução livre), o ciclo vai decorrer entre 17 de outubro e 19 de novembro, partindo dos 50 anos da Revolução dos Cravos que “pôs fim a quatro décadas de fascismo em Portugal”, recorda um texto sobre o evento divulgado na página do museu na Internet.
A organização do ciclo é da responsabilidade de Francisco Valente, crítico de cinema, realizador e programador, assistente de curadoria do Departamento de Cinema do MoMA, que contou com a colaboração do Arquivo Nacional de Imagens em Movimento e da Cinemateca Portuguesa.
“Sob a influência de Manoel de Oliveira – que questionava continuamente as linhas entre a vida e a sua representação – a geração do ‘Cinema Novo’ expandiu as inovações da ‘nova vaga’ internacional dos anos 60, no meio de um ambiente social sufocante no país e de uma guerra colonial brutal em África”, refere um texto de apresentação do ciclo.
Inspirado na Nova Vaga do cinema francês e no neorrealismo italiano, o Novo Cinema português surgiu na década de 1960, ainda durante o regime do Estado Novo e, com uma linguagem inovadora, rompeu com os cânones do cinema tradicional.
Este ciclo – ainda sem programação concreta divulgada – “traz à luz uma tradição estética em que fazer filmes – e vê-los – se torna um gesto político e existencial e cria um espaço de resistência às forças homogéneas e opressivas que nos constrangem na nossa vida – uma busca, numa palavra, de liberdade”, indica o MoMA.
O mesmo texto contextualiza que, em 1974, “estava também em curso uma outra revolução: uma vaga de filmes que, sob o peso da censura, quebrou as distinções entre realidade e ficção no ecrã”.
“Antes que a noção de ´cinema híbrido´ ganhasse força em todo o mundo, o cinema português utilizava ferramentas do documentário para criar ficção (e vice-versa) e oferecer um novo domínio para os sentidos; tal como um processo revolucionário, estabelecia uma ligação entre a vida quotidiana e as confluências políticas que afetam o seu curso”, acrescenta.
O museu recorda ainda que, após a revolução, o movimento por ela desencadeado “centrou-se nas comunidades operárias com uma dignidade renovada e atraiu cineastas estrangeiros, como Robert Kramer e Thomas Harlan, para captar a atmosfera política febril de Portugal”.
“O espírito independente do cinema português continuaria a desbravar novos caminhos com as obras de João César Monteiro, inspiradas em fábulas, e com os documentários de António Reis e Margarida Cordeiro, Manuela Serra e António Campos, que redefiniram a arte do real e influenciaram cineastas como João Pedro Rodrigues, Pedro Costa e Miguel Gomes”, aponta ainda.
Além da programação de exposições, o MoMA – que possui uma coleção de arte moderna com mais de 150 mil peças e um arquivo sobre cerca de 70 mil artistas – organiza atividades paralelas culturais e educativas.
AG // TDI
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