Legado de Aristides de Sousa Mendes celebrado em Nova Iorque em abril

O legado do diplomata português Aristides de Sousa Mendes será celebrado a 07 de abril em Nova Iorque, num evento que reunirá várias representações diplomáticas e institucionais e que homenageará também o humanista brasileiro Luiz Martins de Souza Dantas.

À Lusa, o impulsionador de projetos em memória de Aristides de Sousa Mendes, João Crisóstomo, explicou que o motivo de juntar Sousa Mendes e Souza Dantas na mesma celebração partiu das similaridades entre ambos: “Ambos de língua portuguesa, ambos diplomatas, encontravam-se ambos em França no início da Segunda Guerra Mundial, ambos resolveram desobedecer às diretrizes dos seus Governos e deram vistos aos refugiados que desesperados os procuravam para fugir aos nazis e campos de concentração onde a maioria acabava asfixiada e logo incinerada”.

“Mais tarde ambos foram condenados em tribunais pelo que fizeram. E, nas suas defesas, em anos e locais diferentes, sem saberem um do outro, ambos declararam ter agido assim porque assim lhes mandava a sua consciência de cristãos. Os dois vieram a ser reconhecidos e honrados pelo Yad Vashem [memorial oficial de Israel às vítimas do Holocausto]. E, como que com carimbo de comum destino, vieram a morrer no mesmo mês e no mesmo ano, a escassos dias um do outro: Aristides a 03 de abril e Souza Dantas a 16 de abril de 1954. Portanto, fazia sentido falar dos dois”, explicou João Crisóstomo.

O evento, que assinalará os 70 anos da morte dos diplomatas, decorrerá na Igreja Eslovena de São Cirilo, em Manhattan, e contará com uma missa católica presidida pelo arcebispo Gabriele Giordano Caccia, o observador permanente da Santa Sé junto das Nações Unidas.

É esperada ainda uma intervenção da embaixadora de Portugal junto das Nações Unidas, Ana Paula Zacarias, à qual se seguirá a exibição do filme “O Cônsul de Bordéus”.

João Crisóstomo, que com os restantes membros do Comité do “Dia da Consciência” promoveu esta homenagem, espera ainda a presença de várias representações diplomáticas e institucionais, como de Portugal e de Timor Leste, da Federação Sefardita Americana, da Fundação Sousa Mendes, da Fundação Internacional Raoul Wallenberg, do autarca de Mineola, o luso-americano Paulo Pereira, do senador luso-americano Jack Martins, de representantes das comunidades portuguesas nos EUA, entre outros.

Crisóstomo passou anos a insistir no apoio do Vaticano e das instituições portuguesas à causa do Dia da Consciência, um projeto de celebrações anuais em diversos países, que, a 17 de junho, assinala o dia em que o cônsul português em Bordéus Aristides de Sousa Mendes deu prioridade à sua consciência em vez das regras administrativas e ajudou a salvar dezenas de milhares de pessoas do Holocausto, com autorização de vistos e passaportes.

O ativista português deu especial destaque ao 17 de junho de 2020, ocasião em que o Papa Francisco evocou Aristides de Sousa Mendes num discurso.

“Celebra-se hoje o ‘Dia da Consciência’, inspirado no testemunho do diplomata português Aristides de Sousa Mendes, que, há 80 anos, decidiu seguir a voz da consciência e salvou a vida de milhares de judeus e outros perseguidos”, referiu o Papa na ocasião, durante uma Audiência Geral.

Antigo mordomo de Jacqueline Onassis Kennedy, ex-primeira-dama dos Estados Unidos, em Nova Iorque, João Crisóstomo serviu-se dos contactos que fez durante a sua vida toda para lutar, entre outras causas, pela memória de Aristides de Sousa Mendes.

“Devemos relembrar Aristides de Sousa Mendes para não ser esquecido. Mas a razão primeira é que, ao lembrá-lo, lembramos a sua coragem em ajudar os outros. Devemos relembrá-lo para nos lembrarmos de que, tal como ele, hoje também temos de ter coragem para fazer o que está certo e precisa de ser feito, mesmo que isso exija esforço e mesmo sacrifício da nossa parte, sobretudo para ajudar os que, sem culpa, são pobres e precisam da nossa ajuda”, defendeu o português.

Por ocasião dos 70 anos da morte dos dois diplomatas, o Comité do “Dia da Consciência” pretende, com este evento em Nova Iorque, “manter vivo o legado destes dois humanistas,  para que a coragem destes dois grandes seres humanos continue a ser inspiração e força motivadora de semelhante procedimento nos nossos dias”, sustentou ainda João Crisóstomo.

MYMM (EYL) // MLL

Lusa/Fim

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