Investigador português em estudo publicado na revista Nature Climate Change

Um estudo com a participação do investigador português Miguel Araújo indica que incorporar dados históricos sobre a distribuição das espécies permite obter projeções “mais realistas” e “menos pessimistas” sobre os efeitos das alterações climáticas.

O estudo, desenvolvido por Miguel Bastos Araújo, da Universidade de Évora e do Museu Nacional de Ciências Naturais de Madrid (Espanha), e por Søren Faurby, da Universidade de Gotemburgo (Suécia), está publicado na edição desta semana da revista Nature Climate Change.

No artigo científico, consultado hoje pela agência Lusa, os investigadores admitem que “os efeitos das alterações climáticas na distribuição dos grandes mamíferos de América do Norte poderiam ser menos prejudiciais do que o antecipado pelos modelos frequentemente usados”.

Os autores estudaram, não apenas a distribuição atual das espécies e a sua relação com o clima, mas recorreram também a modelos que incorporaram, além das distribuições atuais, os dados históricos sobre a presença das espécies “antes de terem sido extintas pelos humanos”.

“Fomos buscar os dados históricos da distribuição de mamíferos na América do Norte, desde antes da chegada dos europeus aos Estados Unidos, e fizemos uma caracterização do que é a distribuição potencial de todos esses animais sem intervenção humana”, explicou à agência Lusa Miguel Araújo.

A seguir, continuou, foram elaborados modelos que incorporaram, por um lado, “toda a distribuição potencial das espécies incluindo os dados históricos”, e, por outro, “a distribuição apenas atual”.

“Fizemos as projeções para o futuro, para medir o impacto das alterações climáticas, e concluímos que, se usarmos só as distribuições atuais, temos uma perceção um pouco inflacionada, um pouco alarmista de quais serão os impactos do clima. Mas, se considerarmos os fatores históricos, temos uma perceção mais realista e que resulta menos alarmista”, realçou.

Exemplificando com o caso do lobo, o investigador português lembrou que este animal está hoje “praticamente extinto”, existindo apenas “em algumas partes do norte da Península Ibérica e no norte de Itália, em regiões montanhosas”, assim como “no norte da Europa e na Sibéria”.

“Ora, no passado, os lobos existiam por toda a Europa, o que quer dizer que o que limita a distribuição atual dos lobos não é o clima, é o fator humano”, defendeu.

Por isso, este fator histórico na distribuição das espécies, referente à intervenção humana, deve ser tido em consideração nas projeções para o futuro das espécies.

“Se descartarmos essa informação, a informação sobre a distribuição histórica, estamos a ter uma perceção muito incompleta da capacidade de ocupação do território por parte do lobo”, frisou.

Segundo Miguel Araújo, “a utilização de dados históricos e contemporâneos sobre a distribuição das espécies é inovadora”, assim como o facto de a investigação ter conseguido demonstrar que “existe uma certa inflação nos modelos atuais sobre a distribuição das espécies”.

Este estudo “é uma boa notícia, é possível que as espécies estejam mais capacitadas para se adaptarem as alterações do clima do que indicam alguns modelos”, afirmou.

Mas, admitiu o investigador, também existe um “reverso da medalha”, ou seja, além do clima, “há outros fatores que com ele interagem e que podem tornar estas projeções demasiado otimistas”, afetando o risco de extinção das espécies, como a fragmentação de habitats, doenças ou espécies invasoras.

RRL // MLM

Lusa/Fim

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