Grande afluência na mesa de voto onde mais se fala português para as presidenciais americanas

O dia de eleições nos Estados Unidos amanheceu hoje com grande afluência na mesa de voto da escola Wilson Avenue, junto à Ferry Street de Newark, um dos epicentros da comunidade luso-americana.

Dentro da escola e nos acessos a esta, as conversas decorrem em português, sendo o dia de eleições também uma oportunidade para encontrar vizinhos e amigos.

Lucia Barbosa, responsável pela mesa de voto, relata à agência Lusa uma afluência “muito acima” de anos anteriores.

“Hoje estamos superlotados. Começando às seis da manhã tivemos uma fila até cá fora e não tem parado. O pessoal está todo a sair e estão todos a vir votar”, afirmou a responsável da mesa, também líder para o distrito 18 de New Jersey.

Segundo a responsável, a afluência nas primeiras horas de voto presencial será 90% acima do habitual, incluindo eleições locais, que normalmente têm menos participação. Também a votação antecipada – por correio ou presencial – teve muita afluência.

A cidade de Newark é a maior de New Jersey, sendo aqui e em subúrbios da mesma que está concentrada a população luso-americana no estado da costa leste, vizinho da Pensilvânia, Nova Iorque e Delaware.

Nas eleições de 2020, o democrata Joe Biden ganhou folgadamente no estado. No condado de Essex, a que pertence Newark, alcançou 77%, muito à frente do republicano Donald Trump (22%). Os democratas ganharam também o lugar para o Senado em disputa (Cory Booker) e 10 dos 12 lugares para a Câmara dos Representantes.

Lucia Barbosa relata que perto de 40% dos votantes na mesa da escola Wilson Avenue são luso-americanos. Ao início da manhã, a zona da mesa de voto continuava cheia e no exterior viam-se também muitos idosos, alguns acompanhados de filhos e netos.

“Queremos os votos todos possíveis para melhorar o país”, afirmou à Lusa a responsável da mesa de voto.

Maria de Fátima Sacramento, reformada, hesitou quase até ao momento de colocar a cruz no boletim, sobretudo por influência familiar.

“É a segunda vez que quero por nele (Trump), mas as minhas filhas dizem ‘não, para quê, ele vai desgraçar os nossos filhos e netos e tudo’(…) então votei nela”, a candidata democrata Kamala Harris, disse à Lusa ao sair da mesa de voto.

“Estava dividida mesmo (…) não era por ela que eu queria votar”, admitiu.

Maria de Fátima Sacramento reconhece que a campanha eleitoral de 2024 teve mais insultos entre candidatos do que no passado, mas confessa “simpatia” por Trump. Aqueles que são os problemas identificados por Trump durante a campanha – imigração ilegal, refugiados, insegurança – são também os que mais a preocupam, considerando ser necessário maior “controlo” nas fronteiras.

“Foi difícil [votar em Harris], porque tenho um pensamento, mas as outras pessoas têm outro e estão sempre ‘não vota nele (Trump), não vota nele’…”, confessou a luso-americana natural de Esmoriz.

O facto de Kamala Harris poder tornar-se a primeira Presidente do país seria “importante” para “as mulheres”, mas na situação atual do país seria preferível um homem, prosseguiu.

“No meu pensamento, uma mulher não é capaz de governar um país como nós estamos nos Estados Unidos”, afirmou a reformada.

A caminho do trabalho, José Nunes também lamenta a pouca civilidade entre os candidatos durante a campanha eleitoral, mas aceita que atualmente os políticos têm de ser agressivos para ganhar.

“A segurança piorou (…) leis mais fracas, o respeito já é pouco, os crimes aumentam e as pessoas ficam inseguras”, afirmou o luso-americano de 66 anos, que também se queixou da inflação.

Já Herlander Nisa defende maior controlo da imigração, mas reconhece que esta “acrescenta à América”. E a situação económica, acredita, não é má como os críticos da atual administração democrata afirmam.

“Parece que [a economia] não está boa, mas está, o desemprego está bem”, afirmou à Lusa.

“As pessoas querem sempre mais e mais e isso é que é mau (…) porque isto é um país maravilhoso, dos melhores países do mundo”, reforçou Herlander Nisa.

Há mais de 20 anos no país na profissão de pasteleiro, atribui os insultos principalmente a Donald Trump. E apesar de se considerar “republicano a 100 por cento”, optou por Kamala Harris.

“Nas últimas eleições votei republicano e agora votei democrata”, afirmou à saída da mesa de voto.

No campo oposto, o reformado Jorge declara apoio incondicional ao candidato republicano, queixando-se de forma acesa da imigração e insegurança.

“As eleições são todas importantes para por na rua aqueles que não servem. E estes (democratas) não valem nada, só estão a tirar”, afirmou o luso-americano natural de Arcos de Valdevez.

As eleições de hoje decidem quem sucederá a Joe Biden na presidência, o controlo das duas câmaras do Congresso, além de postos de governadores estaduais e cargos a nível estadual e local. Mais de 82 milhões de 240 milhões de eleitores norte-americanos votaram antecipadamente.

Nas eleições presidenciais, o voto dos norte-americanos vai para um Colégio Eleitoral, constituído por 538 “grandes eleitores” representativos dos 50 estados norte-americanos (e da capital federal Washington, DC).

Dado que a maioria dos estados vota de forma inequívoca e repetida num dos partidos, tudo é decidido nos chamados estados flutuantes (‘swing states’), que as sondagens dizem poder vir a ter resultados muito renhidos. Para estas eleições, os estados considerados decisivos são: Georgia, Carolina do Norte, Arizona, Wisconsin, Pensilvânia, Michigan e Nevada.

Nestas eleições, os 435 assentos na Câmara dos Representantes serão renovados, havendo atualmente maioria republicana de 220-213. Apenas 34 dos 100 senadores vão a votos, deixando em aberto também o controlo do Senado, onde se confirmam os altos cargos do Governo e dos juízes do Supremo Tribunal Federal.

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