Democratas da Virgínia já só pensam em manter Trump longe da Presidência
Manter afastado da Casa Branca Donald Trump, provável adversário de Joe Biden nas eleições norte-americanas de novembro é o foco de eleitores democratas do estado da Virgínia, que à Lusa descrevem o ex-presidente como “mentiroso” e “fraude”.
No dia em que a Virgínia, tal como 14 outros estados e um território, votam no grande dia das primárias dos dois partidos (“Super Terça-feira”), Jill, uma gestora educacional de 45 anos, afirma que “garantir que Trump seja mantido fora do cargo” presidencial é uma das suas prioridades para este ano eleitoral e a única forma de “proteger a democracia” norte-americana.
Quando Trump foi eleito Presidente dos Estados Unidos, em 2016, a eleitora democrata fez parte de um “movimento de resistência”, especialmente a nível local, que tentou fazer oposição ao Governo do republicano, disse à Lusa.
Agora, vendo como praticamente inevitável um novo confronto entre o magnata e Joe Biden, a eleitora acredita que a estratégia para a reeleição do atual Presidente passa por resgatar eleitores republicanos que rejeitem totalmente Trump.
“Se o Partido Democrata for capaz de identificar quem foram os eleitores de Nikki Haley [principal adversária republicana de Trump] nas primárias, esses são os tipos de pessoas junto das quais deveríamos fazer campanha, porque mostraram que realmente odeiam Trump. Eles podem estar mais propensos a votar em Biden”, avaliou Jill, referindo-se a uma estratégia de campanha que ouviu do núcleo democrata.
Segundo o Notícias ao Minuto, além de manter Trump afastado do Governo, Jill apontou ainda como prioridades para a eleição deste ano o controlo de armas, as alterações climáticas e evitar que uma lei federal anti-aborto seja aprovada.
A Virgínia é um dos 15 estados norte-americanos a ir hoje às urnas para as eleições primárias, mas Jill, tal como milhares de outros eleitores, já votou antecipadamente. E votou em Biden, ignorando o movimento entre os democratas que votam “não alinhado” em protesto contra algumas políticas do Presidente, nomeadamente no conflito em Gaza.
Também Richard, um aposentado de 69 anos cuja carreira intercalou entre o Exército dos Estados Unidos e repórter televisivo, confessou que já votou antecipadamente em Biden, não conseguindo conceber a ideia de Trump voltar à Casa Branca depois de “quatro anos infernais”.
“Tenho quatro filhos e estou preocupado com o futuro deles se Trump vencer. Vivemos quatro anos infernais com ele no poder. Nem sei por onde começar. Pela pandemia de covid-19? Morreram milhões de pessoas. É um predador sexual, um mentiroso, uma fraude, um fanfarrão rude que só nos soube envergonhar internacionalmente”, afirmou, não poupando nas críticas ao magnata.
“Estive no Exército durante 10 anos e agora vejo-o a criticar a NATO… isto simplesmente não é a América. Trump espera por algum milagre voltar a ser Presidente e que os seus crimes sejam simplesmente apagados, mas não é assim que este país funciona…ou, pelo menos, não era assim que este país funcionava”, observou.
Num parque no centro de Richmond, capital da Virgínia, o ex-repórter confessou à Lusa que cortou relações com vários amigos e familiares que apoiam o ex-presidente.
“Perdi amigos, familiares, imensas pessoas com quem deixei de falar porque defendem Trump e isso evidencia o que eu realmente sinto por ele. Isto tornou-se realmente visceral e pessoal para mim”, admitiu.
“Se alguém consegue apoiar este homem, se alguém consegue apoiar a retirada dos direitos reprodutivos das mulheres, se alguém consegue fazer todas estas coisas contra pobres, contra os imigrantes, que construíram este país… de onde é que os republicanos pensam que este país veio?! Veio dos imigrantes. Os meus pais vieram do México. Toda esta diversidade faz-nos melhores e mais fortes”, defendeu o eleitor democrata.
Na visão de Richard, os eleitores de Trump, assim como a ala mais conservadora do Partido Republicano, apenas se “preocupam com armas e com uma falsa religião”, além de “colocarem medos nas cabeças das pessoas e oferecerem zero soluções para lidar com eles”.
“Eu tenho amigos espalhados pelo mundo e é simplesmente embaraçoso ter de lidar com a possibilidade de mais quatro anos de Trump. Não há opções perfeitas, mas cabe-nos a nós escolher as que causem menos danos. Tenho 69 anos, não quero ver este país cair novamente. Quero, por exemplo, que os homens deixem de se intrometer na vida das mulheres”, sublinhou.
Margot, uma democrata de 65 anos que trabalha no centro de Richmond, disse à Lusa que ainda não votou, mas que irá fazê-lo ao longo do dia de hoje e que depositará o seu voto em Joe Biden, confiando que o atual Presidente sairá vencedor.
“Vou votar no Biden. Eu desprezo o Trump e odeio o facto de o termos de ouvir novamente. Se o Trump vencer, nós todos vamos perder. Nós simplesmente não o podemos voltar a ter na Presidência de novo. Ele é terrível, uma pessoa horrível”, argumentou.
Questionada sobre quais são as suas maiores preocupações neste ano eleitoral, a democrata apontou a liberdade reprodutiva das mulheres, após o Supremo Tribunal do país – de maioria conservadora – ter revogado o direto constitucional ao aborto.
Além de estes três democratas partilharem uma rejeição profunda de Donald Trump (77 anos), também confiam totalmente nas capacidades de Joe Biden (81 anos) para um segundo mandato, posicionando-se na contramão de uma sondagem revelada no fim de semana que apontou que uma parcela significativa de adultos norte-americanos – cerca de seis em cada 10 – duvida das capacidades mentais de ambos os candidatos.
“Na verdade, não estou minimamente preocupada com as capacidades mentais de Biden. Eu sinto que se fala muito sobre isso e é uma ideia que se continua a perpetuar. Claro que se continuarem a falar sobre esse assunto, as pessoas começarão a ver um problema na idade dele. Eu lembro-me de Biden ser eleito em 2020 e de ele já ser velho na ocasião. Não há realmente nenhuma maneira de evitar isso. Parece-me é que se trata de uma estratégia bastante eficaz, especialmente do lado republicano, para ir atrás de algo específico de Biden”, observou Jill.
“Eu realmente não tenho nenhuma preocupação sobre ele gaguejar ou falar erradamente alguma palavra. Ele sempre falou desta forma. Mas o seu trabalho político mostrou que é um líder eficaz, então não tenho nenhuma preocupação com isso”, assegurou.
A idade avançada de Joe Biden voltou a ganhar destaque na campanha eleitoral, na sequência de confusões de linguagem que tem apresentado publicamente.
Biden, de 81 anos, completaria 86 anos no final de um segundo mandato.
Já Trump, que completa 78 anos em junho e é o candidato favorito nas primárias republicanas, teria 82 anos no final de um segundo mandato como chefe de Estado, acumulando também várias gafes nos últimos meses.
Quer Margot, quer Richard, também não estão “minimamente preocupados” com as críticas à idade e eventual perda de capacidade mental de Biden, avaliando que tudo não passam de “distrações” dos republicanos, porque Biden “é um homem velho que consegue entregar resultados”.