Congressista George Santos deixou rasto de mentiras dos EUA ao Brasil

As acusações contra o congressista norte-americano George Santos continuam a aumentar e a espalhar-se além-fronteiras, com alegadas vítimas do político Republicano a identificarem-se, nos Estados Unidos e também no país onde tem raizes, o Brasil.

Numa reportagem transmitida pela rede Globo, várias pessoas que conviveram com George Santos, filho de imigrantes brasileiros, disseram ter sido vítimas de fraude por parte do Republicano, eleito para a Câmara dos Representantes norte-americana nas intercalares de 2021 e que tomou posse no início do mês.

Pouco após a sua eleição, o jornal The New York Times expôs uma série de contradições no currículo deste político, fiel apoiante de Donald Trump. 

Entre as principais mentiras – que o próprio George Santos admitiu – estavam a de que trabalhou nos bancos Goldman Sachs ou Citigroup ou a de que tinha um diploma universitário.

Além disso, começaram a adensar-se os relatos de que Santos, que tem agora as suas finanças pessoais e de campanha sob escrutínio, também havia mentido sobre ter ascendência judaica e sobre os seus avós terem escapado dos nazis durante a Segunda Guerra Mundial.

“Inventar essa história, de que os seus avós eram sobreviventes do Holocausto, está além dos limites. É simplesmente trágico, ultrajante e nojento”, disse Bruce Blakeman, governador do condado de Nassau, no estado de Nova Iorque.

Com a repercussão do caso, alegadas testemunhas e vítimas das irregularidades do político começaram a surgir, especialmente no Brasil, país onde os seus pais nasceram, mas também nos Estados Unidos da América (EUA).

De acordo com a Globo, George Santos, nascido nos EUA em 1988, chegou a morar no Brasil em 2008, com a mãe e com a irmã, em Niterói, um município do Rio de Janeiro.

 Na época, Santos, que se foi apresentando ao longo dos anos com diferentes nomes, foi acusado de fazer compras com recurso a cheques roubados.

O caso foi arquivado pela Justiça brasileira, uma vez que George Santos não compareceu às intimações e não foi localizado. Contudo, com a notícia de que foi eleito congressista nos EUA, o Ministério Público pediu a reabertura do caso, segundo a imprensa brasileira.

Uma das pessoas que testemunhou as mentiras de George Santos foi o farmacêutico Yasser Rabelo, que afirma ter dividido um apartamento com o político e com a mãe deste em Nova Iorque.

Rabelo classificou Santos como “um mentiroso patológico” após se ter deparado com as mentiras que contou ao longo da sua campanha eleitoral, como quando afirmou que a sua mãe, Fátima Devolder, trabalhou no mercado financeiro, algo que nunca aconteceu.

 Apesar de o filho a ter descrito como “a primeira mulher executiva numa grande instituição financeira”, amigos e ex-colegas de casa de George Santos recordaram Fátima Devolder como uma mulher trabalhadora que só falava português e ganhava a vida a limpar casas e a vender comida.

Durante a campanha eleitoral, George Santos chegou a dizer que a mãe morreu nos ataques terroristas de 11 de setembro de 2001 nos EUA. Contudo, ela morreu em 2016, vítima de cancro, detalhou o The Washington Post.

Segundo vários membros da comunidade brasileira em Nova Iorque, George Santos pediu dinheiro para o funeral da mãe nas redes sociais usando o seu segundo nome, Anthony Devolder.

Apesar da comunidade imigrante se ter unido para ajudar financeiramente Santos, o agora congressista fez uma publicação na internet a criticar todos os imigrantes e refugiados.

Rotulado como um político de extrema-direita, em entrevista à Lusa a poucos dias de ser eleito, Santos negou esse enquadramento.

Na ocasião, o Republicano disse ainda à Lusa que conseguiu construir “uma carreira respeitável” no ramo financeiro e que queria proteger o sonho americano para as gerações futuras.

Outros dos palcos em que George Santos terá espalhado as suas mentiras foram plataformas de encontros, onde terá enganado vários homens e onde chegou a usar nacionalidades e nomes falsos, como quando se apresentou como um cidadão russo chamado Anthony Zabrovski.

Uma das alegadas vítimas é o norte-americano Greg Morey-Parker, que afirma que viveu por dois meses com George Santos, de quem terá sofrido uma burla de 30 mil dólares (cerca de 27,8 mil euros).

“O banco ligou-me e disse que as transações não pareciam normais, porque eu não passo cheques no valor de 10 mil dólares com muita frequência. Os cheques estavam em nome de Anthony Devolver”, explicou Parker ao programa “Fantástico”.

Pedro Vilarva, um cidadão brasileiro que morou nos EUA, diz que conheceu George quando tinha 18 anos e que viveu com ele cerca de um ano até descobrir as mentiras na vida do namorado.

As coisas começaram a complicar-se entre ambos em 2015, após Santos ter presenteado Vilarva com passagens aéreas para o Havai que, afinal, não existiam.

Após o episódio, Vilarva pesquisou o nome de Santos na internet e descobriu que o agora congressista era procurado pela polícia brasileira.

Apesar de se assumir como homossexual e de ter referido esse facto várias vezes ao longo da campanha eleitoral, o ‘site’ noticioso Daily Beast descobriu que o Republicano foi casado durante sete anos com uma mulher, facto ocultado do seu perfil.

O casamento, segundo o Daily Beast, terá terminado apenas 12 dias antes de estabelecer a sua primeira campanha para o Congresso, na qual se posicionou como o único Republicano assumidamente ‘gay’ a concorrer às eleições intercalares de 2022.

Após ter ficado evidente que George Santos mentiu aos seus eleitores em várias frentes, aumentam de dia para dia as investigações ao político, assim como os pedidos para que renuncie ao cargo.

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Lusa/Fim

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