Comissão parlamentar britânica quer ouvir Zuckerberg sobre uso ilegal de dados

Uma comissão parlamentar do Reino Unido convocou hoje o fundador e máximo responsável do Facebook, Mark Zuckerberg, para responder sobre o alegado uso de dados da rede social para influenciar indevidamente processos eleitorais.

O pedido surge numa altura em que têm surgido notícias de que uma empresa com sede no Reino Unido, a Cambridge Analytica, usou indevidamente informação do Facebook para ajudar o candidato republicano Donald Trump a ganhar as presidenciais norte-americanas em 2016. A empresa, acusada de usar a informação de mais de 50 milhões de contas do Facebook, nega qualquer utilização indevida.

O presidente da Comissão de Media do parlamento do Reino Unido, Damian Collins, disse hoje que os deputados pediram, repetidas vezes, ao Facebook que explicasse como é que usa os seus dados, mas que os responsáveis do gigante informático “têm sido enganadores para com a comissão”.

“É altura de ouvir um executivo de topo do Facebook, com autoridade suficiente para dar uma explicação precisa sobre esta catastrófica falha processual”, indicou Collins na carta dirigida diretamente a Zuckerberg. “Face ao seu compromisso, no Ano Novo, de ‘consertar’ o Facebook, espero que o representante seja você”, concluiu.

A comissária da informação do Reino Unido, Elizabeth Denham, também já disse que vai usar todos os poderes ao seu alcance para investigar o gigante das redes sociais e a Cambridge Analytica acerca do alegado uso indevido dos dados.

Denham está a tentar obter um mandato para fazer uma busca aos servidores da Cambridge Analytica. Também solicitou ao Facebook que pare a auditoria que a companhia estava a fazer ao uso de dados por parte da Cambridge Analytica.

“O nosso conselho ao Facebook é o de que se afaste e nos deixe entrar e fazer o nosso trabalho”, disse a comissária.

A Cambridge Analytica já anunciou que está empenhada em ajudar a investigação no Reino Unido. No entanto, Denham deu um prazo limite à empresa para apresentar a informação solicitada – e esse prazo não foi respeitado, indicou o gabinete da comissária.

Denham disse que a principal acusação contra a Cambridge Analytica é a de ter adquirido, por meios não autorizados, dados pessoais. No entanto, ressalvou que as leis britânicas exigem às plataformas como o Facebook que tenham fortes medidas de segurança que previnam o uso indevido dos dados.

Chris Wylie, que já trabalhou para a Cambridge Analytica, afirmou – citado pela imprensa – que a empresa usou os dados para construir perfis psicológicos para conseguir visar diretamente certos tipos de eleitores com anúncios e peças supostamente noticiosas.

Por outro lado, o Channel 4 do Reino Unido conseguiu gravar declarações do principal executivo da Cambridge Analytica, Alexander Nix (sem o seu conhecimento) nas quais este admite usar métodos pouco ortodoxos nas campanhas políticas dos seus clientes.

Nix afirmou que a Cambridge poderia, por exemplo, “enviar algumas raparigas” à casa de um candidato rival, e sugeriu que raparigas ucranianas são bonitas e eficazes nesse tipo de trabalho.

Também disse que a empresa poderia “oferecer uma grande quantidade de dinheiro” a um candidato rival e gravar o momento em que é feita essa oferta, para depois pôr tudo na Internet para mostrar que o candidato é corrupto.

Após a transmissão da peça de investigação do Channel 4, Nix afirmou – em comunicado – que lamenta o papel que desempenhou na reunião fictícia e pediu desculpa aos seus funcionários.

“Estou consciente daquilo que isto parece, mas simplesmente não é o caso. Declaro aqui, enfaticamente, que a Cambridge Analytica não aceita nem se envolve em ciladas, subornos ou as chamadas ‘armadilhas com mel [honeytraps]’, nem usa material falso para qualquer tipo de propósito”, afirmou.

O método de colheita de dados usado pela Cambridge Analytica também motivou investigações por parte da União Europeia, bem como de responsáveis federais e estaduais nos Estados Unidos.

NVI // ANP.

Lusa/Fim

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