EUA/Eleições: Distanciamento da política impede portugueses na Florida de eleger representantes
Enquanto a comunidade portuguesa na costa leste e oeste dos Estados Unidos tem representantes nos seus estados e em Washington, na Florida tal não acontece, segundo fontes locais devido ao distanciamento dos luso-americanos da política.
Carolina Rendeiro, cônsul honorária de Portugal na Florida, revela que atualmente há perto de 81 mil portugueses registados na Florida, muitos vindos da Venezuela, um “influxo enorme”, e do Brasil. Há também uma geração nova de imigração de Portugal, na faixa dos 25-40 anos de idade, que vêm com família trabalhar. Mas o interesse pela política estadual e federal norte-americana é diminuto.
“Ligam mais à política portuguesa… é um problema porque estão cá, trabalham e pagam impostos cá”, afirma à Lusa em Miami. Mas também aquando das eleições portuguesas a votação foi “muito baixa”.
“O nosso voto ajuda. Para o bem de todos, não de um partido ou outro. Para o bem das comunidades todas”, diz Rendeiro, para quem seria importante os portugueses aqui radicados participarem em reuniões com candidatos e interpelá-los sobre as questões que lhes interessam a si e às suas comunidades.
Na costa oeste, há congressistas lusodescendentes eleitos pelos partidos Democrata (Jim Costa) e Republicano (David Valadão). No passado recente, houve mesmo o caso de um influente republicano, Devin Nunes, que presidiu a comités no Congresso.
Na costa leste, sobretudo em estados como Massachusetts e Rhode Island, há vários luso-americanos nos congressos estaduais e é habitual os congressistas manterem proximidade da comunidade portuguesa.
Já na Florida, são raros os casos de eleitos entre a comunidade. Maria Barbosa foi eleita representante no Distrito 5 no Conselho de Educação das Escolas Públicas do Condado de Flagler, de 2016 a 2020.
Em Miami, a democrata luso-americana Raquel Pacheco candidatou-se ao Senado estadual em 2020, mas foi derrotada. Aponta à Lusa como razões para a falta de afirmação política da comunidade a dispersão e o desinteresse.
“Em geral no estado a comunidade portuguesa está muito espaçada… muita gente em West Palm Beach, alguns em Miami Beach”, afirma a luso-americana, fluente em português e espanhol, o que lhe permite apelar também à numerosa comunidade hispânica do estado. Salienta ainda que muitos dos luso-americanos que se estabelecem na Florida são reformados, caso dos seus pais, e afastados da política.
“Os que vêm para aqui não é para estar envolvidos na política, é para relaxar e viver o resto da vida em paz. E a política não é paz, estamos sempre a lutar uns com os outros”, adianta, entre risos.
Sobre o seu futuro político, admite que é difícil atualmente, por ter tomado posição a favor da causa palestiniana e contra as ações militares israelitas nos territórios ocupados, algo que é impopular a nível local, onde a comunidade judaica também é muito forte.
“Estou sempre metida em alguma situação social e não vou dizer que não vou fazer (política) no futuro”, afirma à Lusa, declarando “paixão” pelas causas sociais.
“O clima para mim não é muito bom, mas tenho fé que vai mudar com o tempo. Já está a mudar”, sublinha.
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Lusa/Fim