EUA defendem que Portugal deve fazer mais para atingir 2% do PIB na Defesa
A embaixadora dos Estados Unidos para a NATO defendeu em entrevista à Lusa que Portugal deve fazer mais para alcançar dois por cento do Produto Interno Bruto (PIB) em Defesa, apesar de admitir que houve progressos significativos.
“Aplaudimos e apoiamos tudo o que [Portugal] está a fazer dentro da NATO, é um aliado forte e capaz, mas têm de continuar a aumentar o investimento na Defesa”, sustentou Julianne Smith.
A embaixadora norte-americana junto da Aliança Atlântica acrescentou que nos últimos anos, Portugal “fez alguns progressos nesta matéria”, mas tem de “continuar focado no investimento na Defesa”.
O problema é recorrente a vários Estados-membros da NATO: “Há boas notícias, mas também há algumas más. Ainda não estamos numa situação em que os 30 membros da aliança têm planos para atingir os 02% do PIB ou estão perto de o conseguir.”
Julianne Smith reconheceu que os EUA estavam preocupados com as capacidades de vários Estados-membros. Contudo, isso não impediu os países de auxiliarem a Ucrânia quando a Federação Russa invadiu o país.
“Depois de a guerra começar, países como Portugal providenciaram assistência militar valiosa, mas ao fazê-lo, criaram falhas nos seus ‘stocks’ nacionais”, reconheceu.
Isto “é um assunto muito importante para os Estados Unidos”, garantiu, por isso, o aumento da despesa na Defesa “vai permitir a Portugal não só ajudar a aliança, como também poderá responder à escassez [de ‘stocks’] que tem” por causa do auxílio à Ucrânia.
Questionada sobre o episódio de alegada insubordinação na Marinha portuguesa que impediu o NRP Mondego de acompanhar um navio russo que atravessava as águas portuguesas, Julianne Smith disse estar surpreendida com o sucedido, mas reafirmou que as águas da aliança sobre a alçada de Lisboa estão bem entregues.
“A Marinha portuguesa é um ativo-chave da NATO. Confiamos no que eles fazem e estamos muito gratos pelo trabalho que desenvolvem”, completou.
Mas Moscovo não é a única preocupação de Washington e da aliança da qual Portugal também faz parte.
Nos últimos meses a crispação entre Pequim e Washington atingiu um dos pontos mais elevados dos últimos anos, por causa da posição ambígua da República Popular da China em relação ao conflito na Ucrânia e, mais recentemente, os incidentes com alegados balões meteorológicos chineses em solo norte-americano, que a Casa Branca considerou que eram uma tentativa de espionagem.
Na última semana, o Presidente chinês, Xi Jinping, viajou até Moscovo para em encontro com o homólogo russo, Vladimir Putin. A viagem foi considerada uma provocação, por ocorrer já depois de o Tribunal Penal Internacional emitir um mandado de detenção contra Putin por crimes de guerra na Ucrâni, nomeadamente o aleagado rapto de crianças ucranianas nas regiões ocupadas.
“Fomos muito claros com a República Popular da China sobre os riscos que acarreta apoiar materialmente a Rússia”, advertiu a diplomata norte-americana.
Com Taiwan permanente nos olhos de Pequim e nos objetivos do mandato renovado de Xi, Julianne Smith assumiu que “tem havido discussões com os aliados da NATO sobre a situação em Taiwan”, um dos pontos mais sensíveis da ordem geopolítica: “Avisámos os chineses com clareza sobre os riscos de um possível conflito militar.”
Julianne Smith é embaixadora dos Estados Unidos para a NATO desde novembro de 2021. Anteriormente foi consultora para o Secretário de Estado, Antony Blinken, e diretora dos Programas Geopolíticos e da Ásia no Fundo Alemão Marshall dos Estados Unidos.
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