Estados Unidos denunciam prolongamento de estado de emergência em Myanmar
Os EUA denunciaram o prolongamento do estado de emergência em Myanmar (antiga Birmânia) por mais seis meses, medida que poderá levar ao adiamento das próximas eleições, apesar da promessa da junta militar.
“Os Estados Unidos opõem-se firmemente à decisão do regime militar birmanês em estender o estado de emergência, que prolonga a lei militar ilegítima e o sofrimento que esta inflige ao país”, declarou o porta-voz do Departamento de Estado, Ned Price, em comunicado divulgado na quarta-feira.
O estado de emergência foi declarado quando os militares derrubaram o governo de Aung San Suu Kyi há precisamente dois anos, em 01 de fevereiro de 2021. Depois do golpe, os militares prometeram organizar eleições até agosto deste ano.
Os EUA vão continuar a trabalhar com outros aliados para impedir que a junta obtenha “credibilidade internacional”, acrescentou Price.
O porta-voz da diplomacia norte-americana criticou ainda “as ditas eleições, que vão agravar a violência e a instabilidade e não serão representativas” da vontade dos birmaneses”.
Washington também anunciou sanções contra o setor energético birmanês para aumentar a pressão sobre a junta.
A televisão estatal de Myanmar MRTV noticiou na quarta-feira que a junta militar no poder prolongou o estado de emergência por seis meses, mantendo a promessa de organizar eleições.
“O nosso governo vai trabalhar para organizar eleições em todas as partes do país para que o povo não perca as suas prerrogativas democráticas”, disse o chefe da junta, general Min Aung Hlaing, sem precisar datas, citado pela agência de notícias France-Presse.
Min Aung Hlaing disse que, independentemente do governo que existir, os militares vão continuar a ser os guardiães do país do Sudeste Asiático, que tem fronteiras com Bangladesh, Índia, China, Laos e Tailândia.
“O exército será sempre o guardião dos interesses do Estado e do povo (…) sob qualquer governo”, afirmou, de acordo com a MRTV.
O líder da junta admitiu que mais de um terço dos distritos do país não estão sob “controlo total” dos militares e exigem graus variáveis de “atenção à segurança”.
O golpe militar de há dois anos mergulhou Myanmar numa profunda crise política, social e económica, e reacendeu uma espiral de violência.
Mais de 2.900 pessoas morreram em resultado da repressão militar e policial, e mais de 13.750 foram detidas por razões políticas desde o golpe, disse a Associação de Assistência aos Presos Políticos de Myanmar.
O segundo aniversário do golpe foi assinalado com uma greve silenciosa que deixou o centro de Rangum praticamente vazio e, ao mesmo tempo, vários protestos de birmaneses em frente às embaixadas de Myanmar em várias capitais asiáticas.
Em Banguecoque, uma das principais cidades de refúgio dos que fogem ao regime militar birmanês, os manifestantes exigiram o regresso à democracia e exibiram fotografias de Aung San Suu Kyi.
Com mais de 57,5 milhões de habitantes, maioritariamente budistas, a República da União de Myanmar, anteriormente República Socialista da União da Birmânia, tornou-se independente do Reino Unido em 1948.
Desde então, o país conheceu várias revoltas e esteve durante muitos anos sob domínio dos militares, que ignoraram uma vitória da Liga Nacional para a Democracia, de Aung San Suu Kyi, em eleições realizadas em 1990.
Sob prisão domiciliária durante 15 anos, Aung San Suu Kyi recebeu o prémio Nobel da Paz em 1991, por advogar uma mudança política por meios pacíficos.
Apesar da distinção, a líder birmanesa, de 77 anos, foi contestada internacionalmente devido à perseguição da minoria muçulmana rohingya, que não cessou enquanto esteve no poder, entre 2016 e 2021.
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